Nascida no seio de uma família numerosa, Leonor Santos recorda a vida dura da sua mãe, que passava os dias a trabalhar | Foto: DR

O segundo dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) diz respeito à erradicação da fome. A Ad Gentes – Associação Leigos Missionários da Consolata foi falar sobre este tema com Leonor Santos, de 64 anos, natural de Sacavém. Filha de uma família com seis filhos e empregada de limpeza, Leonor vivia na Damaia, mas um incêndio nos anos 80 destruiu-lhe a casa. Leonor mora agora no bairro do Zambujal, num edifício cuja fachada será pintada com um tema alusivo à fome.

Há quem passe fome no bairro do Zambujal?
Penso que aqueles que precisam de ajuda já estão a ser ajudados, mas dá-me pena ver comida nos caixotes do lixo.

Que alimentos não podem faltar na sua despensa?
Batata, massa, arroz, salsichas e leite. Com estes bens ninguém passa fome e aguentam tempo guardados.

Numa família numerosa, alguma história memorável aconteceu à volta da mesa?
Não tenho muita memória da minha infância porque tínhamos pouco tempo à mesa para convívios. A minha mãe foi uma lutadora e conseguiu criar-nos sozinha. Ela comprava produtos e depois vendia em feiras. Passava o dia a trabalhar e por isso não havia muito tempo para a família. Não foi uma mulher de grandes afetos. Não havia tempo para isso. A maior preocupação dela era que não faltasse comida. Havia sempre sopa, arroz, massa e bebíamos café enquanto comíamos pão com manteiga. De uma coisa tenha a certeza: fruta nunca entrou na casa da minha mãe.

O que há de positivo no bairro do Zambujal?
Uma das coisas que o bairro tem de bom são as festas na Rua das Mães de Água porque são momentos de convívio em que as pessoas saem à rua e se juntam para conversar enquanto partilham uma refeição.

O que falta para melhorar a vida no bairro?
Há muito lixo nas ruas. Se houvesse uma reunião no bairro uma vez por mês com alguém responsável por cada grupo de moradores, talvez pudéssemos avançar com a limpeza das ruas. Para alguns não é grave deitar o lixo pela janela porque não faz confusão, mas para outros, e para o nosso planeta, isso é muito grave.

Texto: Mário Linhares, Leigo Missionário da Consolata e presidente da Ad Gentes