Habitantes vestidos de forma tradicional na província de Marobe, na Papua Nova Guiné. Comunidades do país estão estabelecidas ao longo dos rios que fazem parte de uma vasta rede fluvial | Foto: LUSA

Este país da Oceânia detém diversas riquezas naturais e minerais. No entanto, a pobreza extrema ainda afeta a maioria da população. O país conquistou a sua independência em 1975, após 70 anos de colonização australiana, juntando-se aos países que formam a Commonwealth, governada pelo Rei Carlos III de Inglaterra. A Igreja Católica, apesar de ser uma minoria entre as igrejas cristãs, continua a desenvolver a sua missão centrada na proximidade com as pessoas.

Na diocese de Wewak, no norte da Papua Nova Guiné, o evangelho viaja quase sempre de barco. Padres, irmãs, leigos, catequistas e outros agentes pastorais usam a navegação em canoas no rio Sepik ou no mar, para chegar às comunidades indígenas. Eles levam, para além dos sacramentos, ajuda humanitária através de várias ações de caridade e promoção humana. A maioria destas comunidades é muito pobre e dispersa num vasto território.

Porém, o centro da evangelização está no estabelecimento de laços de amizade, alimentada por longos períodos de permanência entre as comunidades. Por outras palavras, a missão é feita no ‘estar com’, mais do que no ‘fazer’. Esta atividade missionária tem o contributo de várias instituições católicas espalhadas pelo mundo, apoios para a compra de motores para as canoas e sua manutenção, entre outros bens de ajuda à missão.

As comunidades estão estabelecidas ao longo dos rios que fazem parte de uma vasta rede fluvial, que se estende por todo o território. Por isso, dotar as canoas com motores agiliza e facilita a visita dos missionários às comunidades mais distantes. “Não há preço que pague a alegria dos fiéis em poderem celebrar mais frequentemente a Eucaristia ou celebrar as procissões marianas no rio. Sim, porque até Nossa Senhora viaja de canoa”, refere Jozef Roszynski, bispo de Wewak, da congregação Missionários do Verbo Divino.

Victor Roche, também ele sacerdote dos Missionários do Verbo Divino, tem 70 anos, é natural da Índia, e trabalha na Papua Nova Guiné desde 1981. Foi pároco de várias comunidades da diocese de Wewak e é atualmente o diretor das Obras Missionárias Pontifícias, que consistem em sociedades missionárias que estão sob a jurisdição do Papa. Enquanto pároco, Victor Roche visitava regularmente várias comunidades remotas, chegando a demorar três dias de canoa para alcançar as mais distantes. “Esta é uma experiência muito enriquecedora, que continua a ser levada por diante por outros párocos e missionários”, destaca o religioso.

Partilha fraterna de um frango
Um outro testemunho, escutado ao vivo, aponta para os desafios encontrados na missão. “Não ter eletricidade na missão na Papua Nova Guiné até é uma bênção, porque, por exemplo, quando como frango com o meu colega de comunidade, partilhamos o que sobra com os vizinhos, já que não o podemos congelar e, assim, somos mais à mesa”, disse-me um dia um missionário coreano, quando eu estava em missão na Coreia do Sul.

O que mais me impressionou com esta resposta não foi tanto esta perspetiva em si, mas o facto de vir de um coreano, ou seja, de um habitante de uma das maiores potências económicas do mundo. Por amor a Deus e ao povo da Papua Nova Guiné, ele aceitou viver naquelas condições, algo que para muitos do seu país era e é absurdo.

Atualmente trabalham na Papua Nova Guiné cerca de 70 missionários da congregação do Verbo Divino. Entre os vários meios de comunicação usados na evangelização, o padre Victor Roche destaca a importância das estações de rádio, sendo que ele próprio trabalhou também numa, durante oito anos, chamada “Trindade FM”, localizada em Mount Hagen. A estação transmite cerimónias litúrgicas e catequeses, bem como programas com jovens e para jovens sobre temas da atualidade social, cultural e religiosa, entre outros.

Texto: Álvaro Pacheco, missionário da Consolata