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O Fórum dos Religiosos para a Justiça e a Paz da Índia decorreu na cidade de Hyderabad, no estado de Telangana, de 22 a 25 de setembro, com o seguinte objetivo – “Ser profetas numa Igreja frequentemente deturpada pelo ritualismo, permanecer firmes na fé, ancorados em Cristo, no meio das tribulações que derivam da escolha de permanecerem ao lado dos pobres e dos oprimidos”. O fórum é constituído por membros de institutos e congregações religiosas, masculinas e femininas. Na declaração final do fórum, os religiosos exprimiram a necessidade de aprofundar a sua identidade e responder aos sinais dos tempos.

Maria Nirmalini, religiosa e presidente nacional da Conferência dos Religiosos da Índia, fez questão de recordar que o Papa pede à vida consagrada que “acorde o mundo”, dando testemunho de um outro modo de ser, agir e viver, de um estilo de vida profético. Para ela, os religiosos devem estar atentos às alegrias e aos gritos do mundo, bem como ao chamamento de Deus. “Ao observar o mundo, não vemos somente um amor, uma bondade, uma beleza e generosidade incríveis, mas também as pessoas e a natureza a sofrerem sem necessidade, implorando por uma resposta. Nós somos chamados a ser parte dessa resposta”, afirma Maria Nirmalini.

Os religiosos manifestaram também uma profunda preocupação com a contínua deterioração da atual situação da sociedade indiana. Os pobres são cada vez mais, sobretudo os adivais, grupos tribais a quem são roubadas as terras, e os dalit, conhecidos como “os intocáveis” por serem o grupo pertencente ao estrato mais baixo da sociedade. Existem ainda outros grupos, que são continuamente roubados da sua dignidade, do seu direito à igualdade e justiça. Pior ainda é que a discriminação contra os dalit acontece em certos âmbitos da Igreja, onde o sistema de castas causa segregação entre os que, supostamente, são iguais diante de Deus e na sua condição religiosa.

Ao mesmo tempo, os religiosos apelam à sinodalidade como forma de combater a mentalidade clerical e patriarcal da Igreja. Há também o crescente fenómeno da discriminação e perseguição religiosa, baseada no incitamento ao ódio, sobretudo contra as comunidades muçulmanas e cristãs, incluindo com o apoio político que alimenta a discriminação, particularmente com as leis anti-conversão, que são anticonstitucionais. Simultaneamente, o aumento da inflação e do desemprego têm um forte impacto na vida dos pobres, bem como os altos níveis de corrupção. Os que defendem os direitos humanos e tomam posições contra o governo são, em certos casos, perseguidos e até mortos, fatores que contribuem para a destruição progressiva do tecido democrático, plural e laical da sociedade.

Como discípulos de Cristo, conscientes de que a transformação pessoal é o primeiro passo para a mudança social, os religiosos indianos declararam – “Continuaremos a empenhar-nos para construir comunidades mais inclusivas, que vão mais além das divisões religiosas, de casta, de género, de etnia e de todas as formas de sectarismo. Ao mesmo tempo, queremos renovar o nosso compromisso para com o envolvimento ativo na vida dos pobres e marginalizados, dos excluídos, dos explorados e vulneráveis. Tal esforço irá permitir que possamos responder profeticamente aos sinais dos tempos, podendo assim construir uma sociedade mais justa e pacífica”.

Acredito que a Igreja deve recordar continuamente que boa parte da sua missão no mundo consiste em encarnar os valores que Jesus ensinou e praticou, pois “ninguém dá o que não tem”. Ao mesmo tempo, investindo na questão da sinodalidade, onde todos são chamados a ser “pedras vivas e ativas” da Igreja, poderemos, quer aqui, quer na Índia, quer por esse mundo fora ser verdadeiros sinais de esperança para um mundo que cada vez mais precisa de recuperar a dimensão do divino… para poder sobreviver!

Texto: Álvaro Pacheco, missionário da Consolata