Muitos conhecem outubro como o mês do rosário, mas este ainda é desconhecido por muitos como sendo também o mês missionário. Em 1926, o Papa Pio XI instituiu o Dia Mundial das Missões. Esta data foi celebrada no passado domingo, 23 de outubro, tendo sido realizada, em todas as igrejas, a coleta para as missões, a fim de apoiar os vários projetos missionários existentes à volta do globo.

Este ano, o tema da data foi inspirado no livro dos Atos dos Apóstolos: “Sereis minhas testemunhas” (At 1, 8). Este é o mandato que Jesus ressuscitado faz aos seus discípulos no seu último discurso, antes de subir aos céus: “Recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo” (1, 8). O convite que Jesus fez aos seus discípulos, perpetua-se ao longo dos séculos e estende-se a todos os batizados. Como diz o Papa Francisco, “a Igreja é, por sua natureza, missionária”, e “todo o cristão é chamado a ser missionário e testemunha de Cristo. E a Igreja, comunidade dos discípulos de Cristo, não tem outra missão senão a de evangelizar o mundo, dando testemunho de Cristo. A identidade da Igreja é evangelizar”. Todos somos discípulos missionários!

Dentro da Igreja existem aqueles que abraçam este mandato como opção fundamental de vida. Referimo-nos aos membros dos Institutos Missionários Ad Gentes (IMAG), que têm como principal missão anunciar Jesus Cristo a todos os continentes. Há 27 institutos em Portugal que vivem totalmente dedicados à missão, com duas vertentes principais: a evangelização e a promoção humana. Os IMAG abraçam a vocação de Jesus, o qual é enviado pelo Pai para anunciar o Reino de Deus e abraçam a sua opção preferencial pelos mais pobres.

Além de anunciar o Evangelho, os missionários também se dedicam ao desenvolvimento dos povos, tendo em conta as necessidades básicas das pessoas com quem partilham a sua vida, especialmente na área da saúde e da educação, organizando as infraestruturas mais importantes, tais como poços de água, centros de nutrição e de saúde, hospitais, creches, escolas e universidades, entre outras.

Nos oito anos que vivi em Moçambique participei em todas estas tarefas, dedicando-me, especialmente, ao centro de nutrição onde acolhíamos e tratávamos crianças subnutridas, que de outro modo não conseguiriam sobreviver. Muitas recordações, muitas vidas salvas! Recordo o Felisberto que chegou à missão tendo quase quatro anos e ainda não andava. Colocando-o em pé de modo a que caminhasse, começava a gemer, sentia dores nas pernas. Estava muito malnutrido e tinha falta de cálcio. Como tínhamos escassez de medicamentos e não tínhamos comprimidos de cálcio, usámos cascas de ovo, que são ricas em cálcio. Moendo-as, fizemos delas farinha e servíamos uma pequena dose em cada refeição do menino. Depois de umas semanas, o Felisberto iniciou os primeiros passos. Depois de dois meses ele já corria e saltava como as crianças da sua idade. É maravilhoso esta face da igreja que, desde sempre imita a caridade e o amor de Jesus. E todos nós somos convidados para “ser testemunhas do amor de Cristo, até aos confins do mundo!”

Texto: Simão Pedro, missionário da Consolata