Um dos elementos positivos é a presença simples e humilde da Igreja Católica num país de maioria ortodoxa – 71 por cento. Embora seja uma minoria muito pequena, com cerca de 140 mil fiéis, o que corresponde a 0,1 por cento da população, num país onde o Estado nem sequer a considera como legitimamente russa, a Igreja Católica continua a sua ação silenciosa, humilde e evangelizadora. Partilhamos nestas páginas o exemplo missionário dos frades franciscanos, que recentemente renovaram a sua direção naquele país.

A história da Ordem Franciscana na Rússia e no Cazaquistão teve início com a queda da União Soviética. Em 1993, os Frades Menores Conventuais foram trabalhar naquele país a pedido de Tadeusz Kondrusiewicz, então administrador apostólico na Rússia europeia. No início desta missão, os frades dependiam das comunidades polacas da ordem. Mais tarde, em 2001, foi instituída a Custódia Geral Russa de São Francisco de Assis, que engloba também o Cazaquistão.

A Ordem dos Frades Menores Conventuais é um ramo da ordem religiosa que foi fundada por São Francisco de Assis a 22 de dezembro de 1209, com o nome original de Ordem dos Frades Menores, à qual foi acrescentado o título de conventuais. Reeleito custódio geral no sexto capítulo geral, que teve lugar em São Petersburgo entre os passados dias 21 e 27 de junho, frei Darius Harasimowicz recordou que “os Frades Menores na Rússia e no Cazaquistão são 16 no total, provenientes da Lituânia, Eslovénia, Polónia, Bielorrússia e Itália, além de três jovens em formação”. O capítulo geral optou por continuarem a “viver em pequenas comunidades, espalhadas por diversas cidades, para dar continuidade ao serviço pastoral nas respetivas comunidades”, explicou o responsável. “Decidimos ficar ao lado das pessoas, sem deixar comunidades e paróquias onde prestamos o nosso serviço pastoral. Continuamos a nossa missão em prol daqueles que encontramos, em particular dos pobres e excluídos”, acrescentou, em declarações à agência Fides.

Segundo o custódio geral, missionário na Rússia há 26 anos, as novas perspetivas para os próximos quatro anos de mandato são fruto de uma reflexão intensa e enraizada na realidade da missão nesta nação. “O mais importante é estar cientes de que, apesar do pequeno número de frades no país, somos chamados a permanecer onde estamos, reforçando a nossa presença nas cidades onde temos conventos: Moscovo, São Petersburgo, Chernyachovsk, Kaluga, Astrakhan e Nur-Sultan. Outra questão importante foi intensificar, de modo mais amplo e eficaz, as atividades do nosso convento em São Petersburgo, fazendo com que a estrutura acolha grupos de fiéis para reuniões e exercícios espirituais”. Um terceiro tema central dos trabalhos capitulares tem a ver com “o desejo, expresso pelo capítulo, a continuação das atividades da editora franciscana, fundada pela ordem em 1994, na capital, Moscovo. Com esta atividade editorial, não queremos obter lucros, mas ampliar as nossas publicações, como instrumento de evangelização. A vontade é grande. Porém, e para que isso seja possível, são necessários recursos financeiros, que neste momento são muito limitados”.

Santo António na Rússia
O Convento dos Frades Franciscanos em São Petersburgo é dedicado a Santo António de Lisboa, “um santo universal, de todo o mundo”, como disse um dia frei Vítor Melícias. Santo António é considerado universal devido, sobretudo, à ação missionária dos Franciscanos que erguiam conventos e igrejas em sua honra, a todos os locais onde chegavam. O mesmo acontece com a Rússia. O franciscano Andrei Buko disse um dia acreditar que a conversão da Rússia já tinha acontecido, mas não na totalidade. “A Rússia voltou ao cristianismo, mas essa conversão ainda não é profunda, é mais exterior”. Relativamente à reconciliação e ao diálogo entre as Igrejas Católica e Ortodoxa, o padre Andrei afirma que ao nível “simples” já existe, mas há ainda muito caminho a percorrer. “O nosso papel, a nossa missão como franciscanos em São Petersburgo, é o de servir como motivador e estímulo de mudança.”

Texto: Álvaro Pacheco