Foto: DR

Como é que recebeu a notícia do Santo Padre? Onde estava? Como é que a Igreja e a sociedade da Mongólia encaram esta nomeação?
Caros amigos, a notícia chegou-me do nada, enquanto eu estava em Roma a acompanhar uma delegação oficial do budismo mongol ao Santo Padre. Tínhamo-lo encontrado a 28 de maio e no dia seguinte ouvi-o pronunciar o meu nome na recitação do Regina Coeli de domingo.
A jovem e pequena Igreja da Mongólia teve primeiro de compreender do que se tratava, não estando muito familiarizada com as nomeações eclesiásticas. Os fiéis estão agora muito felizes com esta nomeação, especialmente porque veem a sua Igreja, tão afastada do eixo católico tradicional do mundo, reconhecida. Algumas agências noticiosas locais também deram e desenvolveram esta notícia.

A Mongólia é uma realidade diferente do contexto europeu e ocidental. Poderia descrever-nos, brevemente, a situação sociocultural e religiosa no país?
A Mongólia é um país extremamente fascinante, rico em história e em valores humanos e espirituais. Em comparação com os outros países representados na Conferência Episcopal da Ásia Central, é o mais oriental e culturalmente compacto, formado na sua maioria pelo grupo étnico mongol, herdeiros do povo que se unificou em torno da figura do imperador Genghis Khan. É marcada por uma tradição nómada muito antiga, que sempre a colocou numa posição antagónica em relação à cultura agrícola-sedentária da China. A Mongólia de hoje é um país muito grande, caracterizado por um clima continental com extremos fortes – invernos longos e polares, verões curtos e quentes nas zonas desérticas de Gobi – e com uma população minúscula de apenas 3,3 milhões de habitantes. Os territórios da Ásia Central fizeram outrora parte do grande império fundado por Genghis Khan. A língua nacional hoje em dia é o mongol, pertencente ao grupo linguístico Uralo-Altaico. A sua posição geográfica, aninhada entre a Federação Russa e a República Popular da China, faz da Mongólia uma nação com um delicado papel estratégico e político. A religião dominante é o budismo de origem tibetana, flanqueado pelo xamanismo e pelo islamismo, com uma pequena presença cristã.

É um dos primeiros missionários da Consolata na Mongólia. Ainda consegue manter contactos frequentes com a sua primeira comunidade, e com outras congregações religiosas na Mongólia?
Certamente. Aqui na Mongólia, as várias congregações religiosas missionárias representam o maior recurso para a evangelização e cuidado pastoral, uma vez que ainda não há clero local suficiente. Temos apenas dois sacerdotes mongóis… É evidente que por afeto e pela minha história pessoal continuo a sentir-me espiritualmente ligado à família da Consolata, ainda que como pastor tenha de assegurar que todas as realidades sejam igualmente representadas e valorizadas.

Ainda estamos num tempo difícil causado pela pandemia, e agora pela guerra na Ucrânia. Como é que a Mongólia está a viver esta situação? As pessoas estão informadas, ou não recebem as notícias?
A Mongólia, tendo em conta a sua delicada posição geopolítica, segue com grande apreensão o triste caso da Ucrânia, sobre o qual não há falta de informação. Politicamente, este país mantém uma posição oficial de neutralidade. Historicamente, a Mongólia deve muito ao seu vizinho do norte, a Rússia, e por isso não tem interesse em quebrar as boas relações existentes. Por outro lado, sendo um país democrático, há uma variedade de leituras e posições no âmbito do debate político.

Como avalia estes dois anos de missão como bispo na Mongólia?
Foram dois anos muito intensos, marcados em particular pelas restrições da pandemia da covid-19 e pelos efeitos que tiveram na vida da Igreja. Foi uma época delicada, importante para me permitir conhecer melhor a realidade global em que já vinha trabalhando há anos, em que, porém, estava numa posição bastante periférica – a missão rural de Arvaiheer. A Prefeitura Apostólica sentia a falta do seu pastor há quase dois anos quando a minha nomeação chegou. Vários assuntos inacabados tiveram de ser retomados. Agradeço a todos aqueles que me ajudaram, e continuam a ajudar, a “entrar em ponta de pés”, familiarizando-me gradualmente com o meu novo papel. Estou a aprender muito.

Qual é o caminho da Igreja local? Quais são os desafios que o esperam na sua nova missão? E quais são os seus sonhos para essa Igreja?
Nos primeiros 30 anos desde que aqui foi possível professar livremente a nossa fé, uma pequena, mas vibrante comunidade católica local surgiu na Mongólia, graças, sobretudo, ao sacrifício dos primeiros missionários da Congregação do Imaculado Coração de Maria, comummente conhecida como Scheut ou CICM, e dos muitos outros que se lhes juntaram ao longo dos anos, incluindo os missionários e missionárias da Consolata, que chegaram à Mongólia em 2003. No início foi um verdadeiro pioneirismo missionário, marcado, em particular, por projetos de desenvolvimento e assistência, graças aos quais a Igreja ganhou um bom nome mesmo para o governo. Com o tempo, porém, o país cresceu muito, conseguindo deixar para trás o atraso do pós-comunismo e avançando rapidamente para uma economia de mercado. Na rápida evolução da sociedade mongol, menos dependente da ajuda externa, o sistema jurídico também mudou, mas dentro dele o estatuto das instituições religiosas nem sempre encontrou espaço suficiente. Hoje há uma necessidade urgente de ajustar a posição legal da Igreja na Mongólia, o que esperamos que possa ser realizado com a assinatura de um acordo bilateral com a Santa Sé, sobre o qual temos vindo a trabalhar há algum tempo.
O principal desafio para nós continua a ser o repto missionário – continuar na primeira evangelização e apoiar a vida cristã nas comunidades já formadas, dedicando especial atenção ao enraizamento cultural da fé e à perspetiva transversal do diálogo inter-religioso.

Há algum aspeto que pretenda transmitir aos leitores da revista FÁTIMA MISSIONÁRIA?
Os meus sinceros agradecimentos a todos os leitores da FÁTIMA MISSIONÁRIA. Convido-vos a continuar a manter-vos informados sobre a Igreja no mundo, especialmente onde ela é menos conhecida, e, ao mesmo tempo, renovo o meu pedido de orações para que, como missionários, sejamos sempre dóceis ao Espírito Santo, o verdadeiro protagonista da missão. Espero também que estejais dispostos a colaborar em alguma área específica da Prefeitura Apostólica da Mongólia, que ainda depende exclusivamente da ajuda externa de benfeitores e amigos de todo o mundo. Vós, que estais tão perto da Virgem de Fátima, não vos canseis de a invocar em favor da Igreja da Mongólia. Obrigado e muitas bênçãos!

Texto: Bernard Obiero