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Lançaram-me o desafio de partilhar a minha experiência de Páscoa, e fui procurar as palavras certas às pessoas que inspiraram a minha caminhada de fé e o modo como vivo o meu quotidiano. Este desafio acabou por se traduzir num proveitoso exercício de reflexão Quaresmal. Qual é a mensagem mais importante que a Páscoa encerra no meu coração? Como vivo essa mensagem no meu dia a dia? Ainda no rescaldo dos últimos dois anos das nossas vidas, gostaria de destacar duas palavras: esperança e renovação.

Depois de uma pandemia e agora com um conflito armado no nosso continente é fácil depararmo-nos com ‘stories’ na rede social instagram que refletem o nosso desânimo pela humanidade. Na verdade, alhearmo-nos de todas essas questões acaba por ser um escape necessário à nossa sanidade mental. Por vezes, parece tudo tão errado! Com tantos estímulos e exigências que o nosso ritmo de vida impõe, é mais fácil removermo-nos das situações. Ou seja, é mais fácil não nos informarmos, não nos envolvermos moralmente e emocionalmente, e assim abstermo-nos de uma solidariedade comprometida – aquela em que “arregaçamos as mangas” e participamos ativamente na construção de um mundo melhor, alinhado com os nossos valores.

No entanto, gostaria de partilhar algo que li e que nunca esqueci. Fred Rogers, um pedagogo e apresentador televisivo, disse que quando em criança via acontecimentos assustadores na televisão, que o deixavam desanimado, a mãe dizia-lhe sempre: “Look for the helpers!” (Olha para os socorristas!, em tradução livre)”. Ou seja, nestas situações terríveis há sempre gente boa e disposta a ajudar. De certo modo, é como se fosse um paradoxo da nossa humanidade. A par com o maior horror e sofrimento, estão sempre presentes os maiores gestos de empatia, altruísmo e amor. Assim, este exercício mental de conscientemente reparar na bondade que há no mundo enche-me de esperança e renova em mim a certeza, confirmada pela minha fé, que o bem vai sempre superar o mal!

Esta noção ressoa particularmente em mim, à medida que caminhamos para o Domingo de Páscoa, na medida em que celebramos a grande vitória que representa a ressurreição. Jesus venceu a morte, deu a vida pelos amigos – tal como tinha prometido. Na verdade, a Semana Santa está repleta de símbolos e significados (que convido desde já o leitor a explorar), que nos conduzem à noção de renovação. Por exemplo, os óleos santos e a água são abençoados, um novo círio é aceso, e nós renovamos as nossas promessas batismais.

Gostaria também de partilhar as palavras de Teresa Power, que me ajudaram muitas vezes a colocar em perspetiva os momentos de maior desânimo da minha vida: “Ao longo dos muitos invernos da nossa vida, Deus foi preparando as nossas muitas primaveras. (…) E assim continuará a ser: as tempestades que hoje experimentamos levar-nos-ão certamente a novas primaveras, e as sementes que cultivamos nos nossos jardins florirão certamente noutros quintais, porque o nosso Deus é o Deus das estações, o Senhor da vida e da morte, Aquele que, no primeiro livro da Bíblia, tudo cria do nada, e no último livro da Bíblia, tudo recria, já não do nada, mas a partir de tudo o que Lhe oferecermos”.

Assim, estamos a viver uma caminhada Quaresmal, com uma guerra bem próxima de nós, mas com destino à alegria e à renovação da Páscoa. Mas, “se acreditamos que, de tudo, Deus tira bem (se acreditamos que até da morte Ele tira vida!)” quero lançar um desafio – E que tal sermos a mudança que queremos ver no mundo? O que queremos oferecer concretamente a este Deus que tudo renova?

Texto: Célia Freitas Costa