Foto: EPA / Sarah Elliott

A violência comunitária no norte dos Camarões provocou, desde a semana passada, pelo menos, 22 mortos, 30 feridos e 30 mil deslocados. O conflito irrompeu em Ouloumsa, uma vila fronteiriça, depois de uma disputa entre pastores, pescadores e agricultores, devido às dificuldades de acesso à água. A tensão propagou-se às localidades vizinhas. Dez vilas foram incendiadas e destruídas.

Perante esta situação, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) manifestou a sua profunda preocupação com a violência intercomunitária. Segundo a agência da ONU, confrontos em Kousseri, uma região comercial dos Camarões, com uma população de 200 mil habitantes, levaram à completa destruição do mercado de gado, na última semana.

Devido aos confrontos, pelo menos 10 mil pessoas fugiram em direção a N’djamena, capital do Chade, situada a poucos quilómetros dos rios Chari e Logone, que marcam a fronteira entre o Chade e os Camarões. Cerca de 80 por cento das pessoas deslocadas são mulheres, muitas delas grávidas e menores. “Mais uma vez, o Chade assegurou acolhimento e as autoridades, juntamente com os parceiros humanitários, estão a mobilizar-se rapidamente para prestar assistência aos refugiados camaroneses, garantindo-lhes abrigo e ajuda de emergência”, refere o ACNUR, em comunicado.

Os efeitos das alterações climáticas estão a agravar as tensões nos Camarões. Nas últimas décadas, a superfície do Lago Chade encolheu 95 por cento. A falta de chuva no passado mês de novembro secou rios e lagoas sazonais, fundamentais para aquelas comunidades. Segundo o ACNUR, o Chade acolhe quase um milhão de refugiados e pessoas deslocadas internamente.

Enrico Casale, especialista em África, alerta para o drama vivido na região. “Na base das tensões estão as mudanças climáticas que levaram a uma redução dos recursos hídricos. As populações dedicadas à pecuária entraram em confronto com as que se dedicam à agricultura não apenas nos Camarões, mas em todo o Sahel, com intensos surtos de conflito que causam deslocamentos e vítimas”, refere o responsável.