Álvaro Pacheco – Missionário da Consolata

Com base na parábola do trigo e do joio, gostaria de partilhar uma reflexão sobre os “o joio dos injustos”. Sabemos quanto é importante o valor da justiça, pois sem ela o joio aumenta cada vez mais no mundo, começando pelas nossas relações mais próximas. De facto, são cada vez mais os sinais e manifestações do maligno, do joio que por ele é semeado por todo o lado, porque as injustiças cometidas contra a maior parte das pessoas que são justas, quer em Portugal, quer pelo mundo inteiro, são cada vez mais e maiores. Basta pensar na quantidade de casos de corrupção que estão por resolver em Portugal; a nossa justiça está cada vez mais podre, mais injusta, mais ao serviço da minoria que corrói a sociedade e destrói vidas, muitas vidas… e sem serem punidos por isso de forma justa e proporcional ao crime. Pelo contrário, muitos são os que conseguem escapar, vendo os seus casos serem arquivados; pouco tempo depois, já ninguém fala disso, até porque nos alimentam, através dos meios de comunicação, com programas que desumanizam, diminuem e tornam as pessoas mais “incapazes de uma consciência crítica continuada”, porque quando a “matéria é fresca”, soltam-se gritos de condenação e revolta, mas pouco depois o assunto arrefece e fica esquecido, graças a um dos nossos pontos mais fracos: amnésia coletiva, sobretudo a fraca memória do tempo recente.

Acredito que todos recordamos as gargalhadas de gozo e troça de um dos maiores ladrões e corruptos, Joe Berrado, o qual continua solto, depois de ter defraudado o estado em muitos, mas muitos milhões… e, certamente, a soltar gargalhadas ainda mais ruidosas, não diante das câmaras de televisão, mas na companhia de vários compinchas, ou melhor, “sócios no crime”. Recordo também o caso mais recente e que despoletou esta reflexão: um senhor chamado Ricardo Salgado, que destruiu literalmente a vida de milhares de pessoas, muitos deles emigrantes, que se dá ao luxo de ir passear para Itália, onde pelos vistos a covid não existe… ou tirou férias, como ele. E nada é feito para impedir semelhante afronta? São vários os casos de corrupção agravada que pararam no tempo, descritos em milhares e milhares de páginas que, duvido muito, alguém seja capaz de ler tudo e, no fim, teremos ainda de pagar indeminizações absurdas a quase todos eles.

E isto é possível porque o joio da corrupção, alimentado pelo joio dos compadrios, cresce muito mais do que o trigo da justiça; pior ainda, o joio vai destruindo o trigo, seja aqui, seja por esse mundo fora, porque é lá do cimo (Nações Unidas, Parlamento Europeu, entre outras instituições) que as condições para que o joio se espalhe são criadas. Pensemos no caso da droga a nível mundial: como é possível que ela consiga chegar em enormes quantidades a tantos países, incluindo os Estados Unidos, que se gabam de serem os polícias do mundo? É possível, porque não há vontade política para acabar com este e tantos outros flagelos que destroem lentamente a humanidade, como é o tráfico de armas, o tráfico de seres humanos, o tráfico de órgãos humanos, o uso de crianças em zonas de guerra, entre tantos outros. E não há vontade política, porque há sempre quem, deixando-se corromper, lucre milhões com um fechar de olhos, com um “deixa passar”… Infelizmente, este joio mundial começa precisamente nos terrenos mais pequenos, ou seja, nas famílias onde se trocam os valores da justiça, da solidariedade, da defesa da dignidade do outro pelos da corrupção, ganância, do “não olhar a meios para conseguir um objetivo”, entre outros. É na educação dos mais novos que devemos insistir na importância dos valores de Deus, pois só assim teremos trigo que alimente a justiça e paz entre pessoas, e, claro está, no nosso exemplo pessoal.