A pandemia irá deixar mais 47 milhões de mulheres e meninas abaixo da linha de pobreza, o que significa um retrocesso após décadas de progresso na luta pela erradicação da pobreza extrema, revela o mais recente relatório elaborado pela ONU Mulheres e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Antes da pandemia, esperava-se que a taxa de pobreza das mulheres diminuísse 2,7 por cento entre 2019 e 2021, mas as projeções agora apontam para um aumento de 9,1 por cento. Embora a crise tenha impacto sobre a pobreza global, as mulheres serão afetadas de forma desproporcional, especialmente aquelas em idade reprodutiva, concluíram os autores do documento.

Para Phumzile Mlambo-Ngcuka, diretora executiva da ONU Mulheres, “o aumento da pobreza extrema das mulheres, em particular nesta fase de suas vidas, mostra grandes falhas na construção de sociedades e economias”, tendo em conta que são elas que assumem a maior parte da responsabilidade de cuidar da família, ganham menos, poupam menos e têm empregos mais inseguros.

O administrador do PNUD, Achim Steiner, sublinha, por sua vez, que mais de 100 milhões de mulheres e meninas poderiam ser tiradas da pobreza se os governos melhorassem o acesso à educação e ao planeamento familiar, apoiassem salários justos e expandissem os apoios sociais. “Investir na redução da desigualdade de género não é apenas inteligente e possível, mas também uma escolha urgente para reverter o impacto da pandemia”, refere o responsável.

Segundo o relatório, a pandemia terá diferente consequências nas várias regiões. Atualmente, 59 por cento das mulheres pobres do mundo vivem na África Subsaariana e a região continuará a abrigar o maior número de pessoas extremamente pobres. Já o Sul da Ásia, depois de ganhos significativos nos últimos anos, deverá ter um ressurgimento da pobreza extrema. Em 2030, para cada 100 homens com idades entre 25 e 34 anos vivendo nessa região, haverá 129 mulheres pobres.