O povo queniano está a perder a confiança nos seus representantes políticos. Em vez de lutarem pelo bem-estar do pobre e do injustiçado, lutam pela própria sobrevivência politica e não
O povo queniano está a perder a confiança nos seus representantes políticos. Em vez de lutarem pelo bem-estar do pobre e do injustiçado, lutam pela própria sobrevivência politica e nãoNum país de fome e dor, os representantes do governo e da oposição do Quénia jogam, desde há tempos, um jogo de cadeiras musicais. Querem saber quem fica dentro e quem fica fora. E no entremeio o povo espera e alguns desesperam. Outros continuam a armar-se para as próximas batalhas.
Vem-me à mente o teatro Esperando Godot, do dramaturgo Samuel Beckett, há mais de cinquenta anos. Dois amigos esperam por um certo Godot, que não se sabe se vai vir e nem sequer quem ele é. acabam por ficar à espera, embora dizendo que se vão embora.
No Quénia, estamos à espera. Mas à espera do quê? Os políticos dizem que vai chegar um primeiro-ministro com poderes executivos. E todos eles, os políticos, vão enfim poder comer à mesa do grande bolo da riqueza pública. Mas isso não enche o estômago de 35 milhões de outros cidadãos, nem põe fim ao tribalismo que nos devora.
O famoso diálogo para a reconciliação, guiado por Kofi annan, com a promessa de uma solução iminente, está cada vez mais a reduzir-se a algo que nada diz ao cidadão comum. Também nada contribui para a reconciliação nacional e para a cura da chaga do ódio étnico aberta no corpo da nacionalidade.
No entremeio todos esperamos. Esperamos o quê? Godot? Se a identidade nacional quer ter uma face de justiça, paz e igualdade de direitos e deveres, está a tornar-se cada vez mais claro que os seus autores vão ser as bases e não as cúpulas, o povo simples e não os políticos.
No meio disto tudo, a Igreja tem muito a dizer. Mas, a meu ver, diz bem pouco e o pouco que diz não é dito a uma só voz. Se para grandes males se impõem grandes remédios, chegou o tempo de proclamar bem alto, por palavras e obras, que todo o homem é nosso irmão.