O Papa teve segunda-feira, 1 de dezembro, em Beirute, no Líbano, o dia das receções mais calorosas, quer logo no começo do dia, a caminho do Mosteiro de São Maron, na localidade de Annaya, a norte da capital, quer sobretudo já depois do sol-pôr, no encontro com muitos milhares de jovens concentrados na praça em frente ao Patriarcado Maronita de Antioquia, em Beirute.
Enquanto aguardavam pelo pontífice, os jovens libaneses, residentes no país e também da diáspora, mas igualmente oriundos do Iraque e da Síria, cantaram, ouviram e coreografaram músicas. Alguns deles foram os primeiros, a seguir às boas-vindas do patriarca, a intervir na sessão, dando testemunhos de coragem e resiliência.
O Papa começou o seu discurso por saudar os presentes por duas vezes com o Assalamu lakum! (a paz esteja convosco, em árabe). E foi direto àquilo que parece ser uma preocupação sua, nestes dias: o papel dos jovens na construção do presente e futuro do país. “Talvez vocês lamentem ter herdado um mundo dilacerado por guerras e desfigurado por injustiças sociais. Não obstante, há esperança e ela está dentro de vocês!”, observou Leão XIV, explicando de seguida:
“Vocês são o presente e, nas vossas mãos, já se está a construir o futuro! Vocês têm o entusiasmo para mudar o curso da história! A verdadeira resistência ao mal não é o mal, mas o amor, o amor capaz de curar as próprias feridas, enquanto se curam as dos outros.”
Acreditando que o Líbano “há de florescer novamente belo e vigoroso”, Leão XIV procurou responder a uma questão que lhe havia sido colocada sobre “onde encontrar o ponto de apoio para perseverar no compromisso pela paz”. Para ele, esse ponto de apoio “não pode ser uma ideia, um contrato ou um princípio moral”. Será, antes, o próprio Cristo, porque, segundo Santo Agostinho, “nele está a nossa paz, e dele vem a nossa paz”. Uma paz que vai para além da conciliação de interesses, e que passa por “fazer ao outro aquilo que gostaria que o outro me fizesse”, como ensinou Jesus.
A história, o presente e o futuro do Líbano estiveram também presentes naquele que foi um momento intenso desta segunda feira, que deixou o Pontífice “profundamente comovido”: o encontro ecuménico e inter-religioso, que aconteceu na Praça dos Mártires, em Beirute, numa grande tenda expressamente contada para o efeito.
Leão XIV saudou “este lugar excecional, onde minaretes e torres de igrejas convivem lado a lado, ambos se erguendo em direção ao céu”, que “testemunha a fé duradoura desta terra e a perseverante devoção do seu povo ao único Deus”.
“Aqui, nesta dileta terra, prosseguiu o Papa, que cada repique de sino, cada adhān, cada chamada à oração se fundam num único hino sublime, não só para glorificar o misericordioso Criador do céu e da terra, mas também para elevar uma oração sincera pelo dom divino da paz”.
Neste campo, o discurso do Papa lembrou que, “às vezes, a humanidade olha para o Médio Oriente com um sentimento de apreensão e desalento diante de embates tão antigos e complexos”. No entanto, ele entende que “é possível encontrar um sentimento de esperança e encorajamento quando nos concentramos no que nos une: a nossa comum humanidade e a nossa fé num Deus de amor e misericórdia”.
Essa experiência da coexistência já acontece no Líbano, cujo povo “embora professe diferentes religiões, é uma poderosa lembrança de que o medo, a desconfiança e o preconceito não têm a última palavra, e que a unidade, a reconciliação e a paz são possíveis”.
O segundo dia da visita apostólica de Leão XIV ao Líbano começou logo de manhã, nesta segunda-feira, pela visita à tumba de São Charbel, o primeiro santo maronita libanês, canonizado por Paulo VI em 1965, que se encontra no mosteiro de São Maron (sécs. III-IV), nome do fundador da Igreja Maronita, ligada a Roma, que se encontra a 1200 metros de altura, no cimo de um monte a cerca de 50 km a norte de Beirute.
São Charbel foi monge e ermita, tendo vivido no séc. XIX, e morrido com fama de santidade, pelo “conforto, perdão e conselho” que proporcionava a quem o procurava. Desde então, milhares de fieis devotos ali se deslocam ao longo do ano, vindos das diferentes partes do Líbano e mesmo do estrangeiro.
Pela curiosidade que a visita do Papa desperta, mas também pelo motivo desta deslocação para rezar a São Charbel, muitos foram os libaneses que, apesar da chuva, se concentraram ao longo do trajeto, mas especialmente na parte final, feita já no papamóvel. Muitos lançavam pétalas de flores e até pombas, símbolos da paz, quando o Papa ia a passar.
Num curto discurso, proferido no convento, o bispo de Roma refletiu sobre a mensagem deste santo para os dias de hoje, observando que ele ensinou “a oração aos que vivem sem Deus, o silêncio aos que vivem no barulho, a modéstia aos que vivem para aparecer, a pobreza aos que buscam riquezas”, comportamentos contra a corrente, que fizeram com que ele fosse “como água fresca e pura para quem caminha no deserto”.
O ponto seguinte da digressão do Papa foi Santuário de Nossa Senhora do Líbano, em Harissa, onde foi encontrar os bispos, padres, consagrados e outros agentes de pastoral. Num templo com uma arquitetura original, a sugerir uma tenda gigantesca, o Papa escutou vários testemunhos da presença da Igreja e dos fieis maronitas em situações e contextos de grande diversidade, mas também de grandes dificuldades, como, por exemplo, a violência armada ou o acolhimento de refugiados sírios, em fuga do seu país.
Num comentário e reflexão sobre o que acabara de ouvir, Leão XIV lembrou a imagem já usada na viagem anterior do Papa Francisco – a da fé como “âncora no céu”, assim como os cedros do Líbano como metáfora das “raízes fortes e profundas”, que sustentam o aprofundamento de relações que redundam em gestos de acolhimento e solidariedade.
E antes de oferecer ao santuário mariano em que se encontrava uma “rosa de ouro” que exorta a “ser perfume de Cristo” através da vida, o Papa recebeu uma calorosa salva de palmas quando comparou esse perfume ao aroma que “brota das mesas libanesas, típicas pela variedade de alimentos que oferecem e pela forte dimensão comunitária ao partilhá-los. É um perfume feito de mil aromas, que impressionam pela sua diversidade e, por vezes, pelo seu conjunto. Assim é o perfume de Cristo”, concluiu.
Texto redigido por 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.








