Em 2024, as necessidades humanitárias atingiram níveis sem precedentes, com quase 300 milhões de pessoas necessitando de assistência em todo o mundo. Mulheres e meninas, que já enfrentavam desigualdades persistentes, arcaram com uma parcela desproporcional desse fardo, escreve Sofia Calltorp, diretora do Escritório de Genebra e Chefe de Ação Humanitária da ONU, na apresentação do relatório anual da ONU Mulheres que decorreu na tarde de dia 13 de novembro.
Nesta situação crítica, a organização levou assistência e serviços humanitários a 5,3 milhões de pessoas afetadas por crises, incluindo 1,13 milhões diretamente (80 por cento delas mulheres e meninas) e outras 5,4 milhões foram beneficiadas indiretamente. Esta assistência concretizou-se em 43 países, através de parcerias celebradas com 1.270 organizações lideradas por mulheres ou focadas nos direitos das mulheres às quais foram fornecidos financiamento e conhecimento especializado para acelerar as ações a favor da comunidade.
2024 foi também o ano mais mortal para os trabalhadores humanitários, com mais de 383 mortos (muitos deles em Gaza), o que acabou por restringir severamente o acesso à ajuda humanitária. Apesar disso, um total de 6.034 pessoas (5.584 mulheres e 438 meninas, 2 homens e 10 meninos) participaram nos programas de aprendizagem Segunda Chance da ONU Mulheres em 10 diferentes países afetados por crises. Por outro lado, 347 espaços seguros e centros de formação para mulheres foram geridos ou apoiados pela organização em 30 países.
A ONU Mulheres interveio rapidamente nas crises no Afeganistão, Sudão, Território Palestino Ocupado, Ucrânia e outros países, garantindo também “que as vozes das mulheres moldassem as estratégias de recuperação”. Contudo, prossegue a diretora do Escritório de Genebra e Chefe de Ação Humanitária da ONU, “apenas uma fração dos apelos direcionados a mulheres e meninas recebe recursos adequados”.
O relatório anual é apresentado num momento crítico para o sistema humanitário, caracterizado por “cortes de financiamento sem precedentes, combinados com o aumento das necessidades globais”, situação que exige “uma reforma fundamental para garantir que a estrutura humanitária possa atender efetivamente às populações afetadas por crises, particularmente às mulheres e meninas, que enfrentam as maiores vulnerabilidades, mas que demonstram uma extraordinária capacidade de liderança”.
Sofia Calltorp concluiu a sua apresentação sublinhando: “Os riscos nunca foram tão altos, mas também nunca foi tão alta a nossa determinação para garantir que nenhuma mulher ou menina seja deixada para trás em qualquer crise.
Texto: 7Margens | Lusa








