Israel deve “revogar imediatamente” a ordem de deslocação em massa emitida pelos militares aos residentes da cidade de Gaza na última terça-feira, 9 de setembro. O apelo é feito pela Amnistia Internacional (AI) num comunicado emitido esta quarta-feira, e no qual partilha “testemunhos arrepiantes de residentes e profissionais de saúde após a emissão da ordem”.
Um desses testemunhos é o de um profissional de saúde que tem acompanhado crianças com desnutrição: “Não quero deixar os meus pacientes, as crianças cujos corpos são frágeis demais para lidar com mais uma deslocação, mas não sei o que fazer. É como ter de escolher entre duas mortes: a morte por bombardeamento ou a morte lenta da deslocação, sem saber para onde ir. Já fui deslocado 15 vezes, não consegui dormir nas últimas noites por causa dos bombardeamentos intensos nas proximidades, e ainda estamos a tentar ir trabalhar para tratar as crianças, mas estamos exaustos”, relatou o profissional.
Uma mulher idosa com deficiência que está alojada num campo improvisado para pessoas deslocadas internamente em Tal al-Hawa, no sul da cidade de Gaza, contou também a sua traumática experiência: “Fomos deslocados de Sheikh Radwan há três semanas, o meu filho teve de me carregar nos ombros porque não tenho cadeira de rodas e nenhum transporte conseguia
chegar à nossa zona. Agora, mandaram-nos evacuar novamente. Para onde vamos? Para garantir transporte para o sul, é preciso pagar cerca de 4.000 shekels [1.000 euros], e para comprar uma tenda, é preciso pagar, pelo menos, 3.000 shekels [800 euros], e não sabemos se encontraremos algum terreno para montar a nossa tenda. Já gastámos todas as nossas economias para sobreviver a esta guerra, procurando comida e bens de primeira necessidade. Todos os dias, é como se a guerra estivesse a começar de novo, só que muito pior, mas estamos totalmente exaustos, sem vontade nem forças para continuar”.
O comunicado cita ainda um terceiro testemunho, desta feita de uma avó que cuida da sua neta de oito anos, ferida, cujos pais foram mortos num ataque aéreo em maio passado, disse: “Ela é tudo o que me resta, e tentei tudo o que pude para a proteger. Fomos deslocados duas vezes só na última semana. Não temos meios para ir para o sul e estamos cansados de ser forçados a viver esta provação novamente”.
Testemunhos como estes levam Heba Morayef, diretora regional para o Médio Oriente e Norte de África da Amnistia Internacional, a não ter quaisquer dúvidas de que “a ordem emitida pelas forças armadas israelitas para a deslocação em massa dos residentes da cidade de Gaza é cruel, ilegal e agrava ainda mais as condições genocidas de vida que Israel está a infligir aos palestinianos”.
“Para as centenas de milhares de palestinianos na cidade de Gaza que, de há quase dois anos a esta parte, vêm suportando bombardeamentos implacáveis enquanto passam fome e vivem amontoados em campos improvisados ou refugiam-se em edifícios sobrelotados, esta é uma repetição devastadora e desumana da ordem de deslocação em massa emitida para toda a zona norte de Gaza, a 13 de outubro de 2023”, acrescenta.
A organização de defesa dos direitos humanos considera que “a última ordem de deslocação, alinhada com a expansão das operações militares em Gaza, incluindo a destruição de arranha-céus onde milhares de famílias estavam abrigadas, é mais uma prova de como Israel está deliberadamente a infligir condições de vida concebidas para causar a destruição física de uma população já devastada”.
E conclui o comunicado com um aviso e um apelo: “Os estados e as empresas que continuam a armar Israel correm o risco de ser cúmplices do genocídio. Todos aqueles que têm influência sobre Israel devem pressionar para que se ponha imediatamente fim à campanha genocida e se permita o acesso humanitário total aos civis de Gaza”.
Texto redigido por 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.








