Imagem de Nossa Senhora da Consolata com cerca de 100 anos foi transportada num andor ao longo de três quilómetros | Foto: Ricardo Santos

Os Missionários da Consolata celebraram os 100 anos da sua presença em Moçambique no Santuário de Nossa Senhora da Consolata de Massangulo. As celebrações decorreram de 21 a 22 de junho, logo depois do Dia de Nossa Senhora da Consolata, assinalado dia 20. As cerimónias reuniram cerca de 2.000 peregrinos de mais de dez nacionalidades, incluindo bispos das dioceses de Moçambique, missionários de várias congregações, religiosos e religiosas de diferentes institutos, leigos e sacerdotes diocesanos.

Participaram também muitos amigos da Consolata, catequistas e pessoas de zonas remotas e de outras províncias de Moçambique, que acompanharam a evangelização e promoção humana da Consolata ao longo dos anos. Houve mesmo quem fizesse mais de 2.000 quilómetros de carro ou de transportes públicos porque queria estar presente. Os Missionários da Consolata lançaram nestes povos uma semente que germinou com graciosidade e constância até hoje.

As celebrações foram presididas por Osório Afonso, Missionário da Consolata e bispo auxiliar de Maputo, que esteve acompanhado por Inácio Saure, também ele Missionário da Consolata, e atual arcebispo de Nampula e presidente da Conferência Episcopal de Moçambique. Na sua homilia, Osório Afonso referiu que o “missionário deve dar a sua vida pelos outros e deve desgastar a sua vida pelos irmãos, sem ser um mero cumpridor de horários no atendimento das pessoas que o procuram”.
Neste serviço de “gastar-se” pelos outros levado a cabo pelos Missionários da Consolata, destacam-se a construção de escolas, a preparação de técnicos em escolas de artes e ofícios, e até a criação de postos de trabalho, algo que aconteceu através da fundação das salinas de Mambone. Foram igualmente muitas, as obras de evangelização. Houve muita obra feita e muitas vidas potenciadas pela sua ação.

Das comemorações fizeram parte diversos testemunhos missionários. As celebrações integraram também a peregrinação diocesana ao Santuário da Consolata. A procissão fez-se em fila dupla ao longo de mais de 200 metros. Neste cortejo, a imagem de Nossa Senhora da Consolata, que conta com cerca de 100 anos, foi transportada num andor. A procissão iniciou no Santuário de Nossa Senhora da Consolata e subiu durante cerca de três quilómetros pelo Monte da Cruz até ao largo da Igreja da Rocha.

Este é um espaço arborizado, com mais de 100 hectares, serpenteado por estações da via-sacra, trilhos cheios de natureza luxuriante, e onde brota água fresca entre as pedras. Este espaço foi idealizado, planificado e concretizado pelo padre João Nascimento, que chegou àquele território em 2017. É um local inspirador para todos os grupos, povos ou pessoas que procuram estar em sintonia com a “Casa comum” de que tanto que falava o falecido Papa Francisco. Este momento contou com momentos litúrgicos perfeitamente integrados num ambiente onde predomina a natureza.

A procissão foi fecundada pelas palavras do arcebispo de Nampula, que destacou o trabalho dos missionários em prol das pessoas. Inácio Saure lembrou que o povo moçambicano vive uma realidade difícil, causada pela má gestão política, sendo que grande parte da população de Moçambique vive ainda em condições de grande pobreza, onde as crianças não têm o mínimo para se poderem desenvolver.

Uma Igreja que cresce
Moçambique foi o quarto país a receber os Missionários da Consolata, numa altura em que o fundador da congregação – José Allamano – ainda era vivo. Entre os Missionários da Consolata que trabalham atualmente no país está José Brás. Aos 53 anos, este Missionário da Consolata português está em missão na Paróquia de Nossa Senhora de Fátima de Vilankulo, e demonstra-se satisfeito com o trabalho da Igreja Católica no continente africano. “Aqui em Moçambique, e em África no geral, vemos que os católicos estão a crescer e as vocações também. A Igreja é jovem. Vemos menos missionários estrangeiros e vão aparecendo, cada vez mais, missionários africanos, incluindo moçambicanos. O clero local também vai aumentando. Para nós, como missionários ad gentes, isso é bom. Quer dizer que há trabalho que está a ser feito. Eu acredito que a Igreja de Moçambique vai crescer e desenvolver-se.”

Texto: Ricardo Santos, Leigo Missionário da Consolata