A Igreja “não pode aceitar” discursos racistas e xenófobos, afirmou Eugénia Quaresma, diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM), a propósito do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, assinalado domingo, 25 de setembro. “Aquilo que é preocupante é quando transformamos os migrantes em bodes expiatórios. E é isso que a Igreja não pode aceitar e que a Igreja não aceita”, sublinhou a responsável.

Eugénia Quaresma apela a uma “mudança na narrativa”, que leve todos, na Igreja e na sociedade, a “trabalhar em conjunto”. “Quem trabalha diariamente com migrantes e refugiados consegue estar mais disponível para escutar as histórias, para ver estes irmãos e reconhecer o sentido da fraternidade. Quem não está habituado, quem não conhece esta realidade deixa-se mais facilmente contagiar pelo medo, o medo do desconhecido”, demonstrou a profissional.

A diretora da OCPM louvou a solidariedade em relação aos que escaparam da guerra na Ucrânia, e pediu que “algumas dessas respostas sejam fixadas e alargadas a outras nacionalidades”. “Um dos momentos de tristeza neste movimento todo foi quando, nas fronteiras, sentimos que houve pessoas que ficaram para trás porque não eram identificadas como vindas da Ucrânia”, demonstrou a responsável.

Eugénia Quaresma considera que Portugal se encontra “vulnerável” ao tráfico de seres humanos, nomeadamente no atual cenário de guerra. “O trabalho de sensibilização, nomeadamente da Igreja tem a ver com isto: não nos transformarmos em exploradores, como não sermos consumidores seja da exploração laboral, seja da exploração sexual, seja a questão, por exemplo, da adoção”, enumerou.

A profissional pede aos responsáveis políticos para que trabalhem “no sentido da coesão social”, de forma a suplantar as injustiças e desigualdades existentes. “A questão dos nacionalismos tem de ser repensada. Não faz sentido, temos de cuidar”, afirmou a responsável, em entrevista conjunta à agência Ecclesia e Rádio Renascença.