Governo moçambicano promoveu um encontro para dar a conhecer a iniciativa e escutar os partidos políticos, mas as comunidades rurais alegam que foi uma reunião com audiência «domesticada». E recordam um mau exemplo verificado com uma empresa portuguesa
Governo moçambicano promoveu um encontro para dar a conhecer a iniciativa e escutar os partidos políticos, mas as comunidades rurais alegam que foi uma reunião com audiência «domesticada». E recordam um mau exemplo verificado com uma empresa portuguesaO coordenador da ação académica para o Desenvolvimento das Comunidades Rurais (aDECRU), Clemente Ntauazi, criticou esta semana, mais uma vez, a forma como está a ser apresentado e desenvolvido o mega-projeto agrícola, previsto para o chamado corredor de Nacala, em Moçambique. Pensam em alimentar o mercado internacional, esquecendo-se do mercado interno, enquanto na província de Nampula as pessoas morrem de fome, afirmou o dirigente à agência Misna, à saída de uma consulta nacional em Maputo, sobre o projeto ProSavana. Segundo a versão do governo moçambicano, o encontro serviu para dar a conhecer o plano e ouvir as exigências dos partidos políticos, da sociedade civil e dos camponeses. Mas para os responsáveis da aDECRU, tratou-se de mais uma oportunidade perdida, perante uma audiência domesticada por convites pessoais e pré-seleções. O governo quer poder dizer aos investidores estrangeiros que a lei foi respeitada, que se fizeram as consultas e que agora se pode começar a trabalhar a sério, lamentou Ntauazi. O ProSavana é projeto mais importante de agro-negócio na história de Moçambique. abrange uma área superior a 14 milhões de hectares, uma superfície maior do que países como Portugal ou o Malawi, onde vivem cerca de 4,5 milhões de pessoas. a zona visada, situada no norte do país, entre as províncias do Niassa, Nampula e Cabo Delgado, é uma das mais férteis do sul de África. O projeto prevê que o financiamento seja da responsabilidade da Moçambique e Japão, enquanto o Brasil garantirá o fornecimento da tecnologia. O plano estratégico tripartido aponta para a criação de unidades com áreas de três mil a 10 mil hectares, para monocultivos industriais. O coordenador da aDECRU não tem dúvidas: O ProSavana retirará os camponeses das suas terras, usando-os apenas de forma sazonal, quando em Moçambique é necessário um modelo que permita aos agricultores produzir para as suas próprias necessidades e, em complemento, para o mercado. Isto porque nos novos latifúndios deverá cultivar-se milho e feijão, e sobretudo soja, para os mercados mundiais, o que converterá os camponeses em trabalhadores que produzem para os outros e, logo, não terão o dinheiro que necessitam para comprar o que comer. Para Clemente Ntauazi, trata-se de uma receita que vai na direção oposta à luta pela segurança alimentar, num país em que 80 por cento da população vive da agricultura. E que tem o apoio das autoridades, apesar de experiências semelhantes terem resultado em autênticos desastres. O dirigente recorda, em particular, o projeto da agromoz, uma empresa controlada pelo Grupo amorim, que ocupou 3. 000 hectares e os camponeses formam forçados a ir para outro lado, o que causou conflitos de terras com as comunidades que os receberam.