« a Igreja Católica em Moçambique está a desenvolver-se com alegria e há um trabalho pastoral que tem dado resultados maravilhosos, tanto na formação de pessoas, como no emprego, no sistema agrí­cola ou nas comunicações»
« a Igreja Católica em Moçambique está a desenvolver-se com alegria e há um trabalho pastoral que tem dado resultados maravilhosos, tanto na formação de pessoas, como no emprego, no sistema agrí­cola ou nas comunicações»José Salgueiro da Costa é sacerdote há 40 anos. Tem duas décadas de trabalho missionário em Moçambique e vê com preocupação o atual clima de tensão que se vive no país. Natural de Pataias, concelho de alcobaça, o religioso do Instituto Missionário da Consolata, de 70 anos, congratula-se por terem sido realizados mais de 5. 000 batizados na sua paróquia, o ano passado. Fátima Missionária Tem 20 anos de experiência missionária em Moçambique.como está o país a reagir ao clima de tensão entre o governo e o principal partido da oposição, a RENaMO? José Salgueiro Costa Neste momento, há dois problemas que estão a causar grande preocupação. Um está relacionado com os raptos, sobretudo em Maputo. Têm sido muitos, com a finalidade de roubar, ou de procurar dinheiro, o que tem gerado algum alarme e perturbado o ambiente na cidade. O outro problema é o ter ressurgido a ameaça de uma guerrilha, o que tem abalado toda a nação. Nota-se o reforço da segurança nas estradas, nomeadamente na ponte do Zambeze, que liga o norte ao sul. O receio generalizado é que tudo deslize para um recomeçar da guerrilha, o que não seria nada bom para o desenvolvimento do país. FM Os avanços conquistados no período de paz estão em risco? JSC O país tem tido paz desde 1992, data em que foi assinado o tratado entre a FRELIMO e a RENaMO. Tem dado passos importantes a nível económico, ao explorar os diversos minérios existentes no país, como o carvão, que foi descoberto em quantidades incríveis. Mas se houver guerrilha, certamente que os investidores internacionais não permanecerão em Moçambique e será um recuar nos avanços entretanto conquistados. FM a exploração desses recursos tem-se refletido na melhoria da qualidade de vida dos cidadãos? JSC Bem, o governo diz que são precisos uns anos para esse bem-estar social chegar às bases, ao povo. E por enquanto vê-se que o progresso tem custado a chegar aos extremos da sociedade. Mas já se notam algumas melhorias e espera-se que, no futuro, toda a população moçambicana possa aproveitar aquilo que são as fontes nacionais de riqueza. FM Como era ser missionário em Moçambique há 20 anos? JSC Estive lá sete anos no tempo da guerrilha e da instabilidade. E era muito triste, por causa fome, da pobreza, da divisão nas famílias, das dificuldades nas ligações entre as localidades. Quando havia alimentação para distribuir, era difícil de a fazer chegar às populações que estavam cercadas pelos combatentes. além disso, era todo um sistema nacional prejudicado, desde as escolas, às indústrias, ao comércio e à agricultura. Por vezes, nem se podia cultivar ou recolher os produtos, porque a guerrilha tomava conta dos campos e ninguém se sentia seguro.

FM agora que paira de novo o fantasma da guerra sentem que o vosso trabalho pode sair prejudicado?JSC Não. Nós vivemos com o povo, sentimos as suas dores e as alegrias. Ficamos felizes quando as pessoas não sofrem de fome, têm as escolas a ser melhoradas ou aumentadas em número. Quando as coisas se encaminham para a pobreza e para a fome, os missionários e missionárias, como é evidente, fazem tudo para aliviar o sofrimento da população. a Igreja faz-se e refaz-se para ir ao encontro daquele que está mais distante, mais esquecido ou que sofre mais necessidade no vestir, no comer, na saúde.

FM É essa entrega que faz da Igreja Católica em Moçambique uma Igreja florescente?JSC Graças a Deus a Igreja Católica em Moçambique está a desenvolver-se com alegria e há um trabalho pastoral que tem dado resultados maravilhosos, tanto na formação de pessoas, como no emprego, no sistema agrícola ou nas comunicações. Na nossa paróquia, constituída pelas missões de Cuamba e Mitúcua, por exemplo, o ano passado tivemos mais de 5. 000 batizados.

FM O Instituto Missionário da Consolata tem uma presença forte em Moçambique JSC Sim, os missionários da Consolata chegaram a Moçambique em 1926 e têm estado lá até aos dias de hoje. Na paróquia onde estou, desenvolvemos vários projectos, desde o ensino escolar e profissional, ao campo da saúde. Criámos uma biblioteca que é muito frequentada pelos mais jovens e sempre que podemos ajudamos os estudantes nas suas despesas, sobretudo na aquisição de materiais escolares.