Procuremos juntos caminhos novos, para não voltarmos a percorrer trilhos ensanguentados. O olhar está na paz, o caminho será a paz, com a força da esperança, da consciência e da verdade, arriscando a aventura da fraternidade
Procuremos juntos caminhos novos, para não voltarmos a percorrer trilhos ensanguentados. O olhar está na paz, o caminho será a paz, com a força da esperança, da consciência e da verdade, arriscando a aventura da fraternidade Um destes dias (18 de julho de 2012), subi ao monte da torres de comunicação de Berlin, no município de Toribio, Colômbia. Porquê? Porque no dia da minha ordenação sacerdotal disseram-me que, para acompanhar a comunidade, devia inspirar-me no Bom Pastor que está onde está o rebanho, seja na hora do sol e do pasto fresco, seja na hora dos lobos. Subi ao monte, porque o povo indígena estava escrevendo outra página no doloroso caminho começado em 1492. ali, nas Torres de Berlin, estava a comunidade em resistência civil, defendendo e reclamando a paz, que é a senha da vida. Fiquei uma noite e um dia. Devia responder a perguntas que me fazia a comunidade e que eu mesmo sentia necessidade de aprofundar. Será que estava equivocado nestes 30 anos que acompanhei o povo Nasa, será que caí numa armadilha de guerrilheiros infiltrados, de um povo terrorista? O que encontrei foi a alma de um povo com raíz, com sonhos, que tem história, que tem religião e cultura, que tem resistência para ser o que é e o que quer ser. Encontrei as mães que diziam ao governador: mande uma delegação de mulheres falar com a ESMaD [Polícia de Intervenção], às vezes podemos fazer algo mais; e jovens cautelosos pedindo: não procurem a agressão. Havia um menino jovem, um Guarda Indìgena, com cerca de 15 anos, com as mãos limpas, sem instrumentos de guerra, à beira do monte, a poucos metros dos polícias anti-motim. Caiu sufocado pelo gás e foi capturado por um soldado. Foi agredido mas conseguiu libertar-se valentemente. Correu para o campo-base, para ser assistido pelo pessoal de saúde.como não tinha nada fraturado, 15 minutos depois, sem comer nada, correu de novo para a sua posição, onde tinha caído e ressuscitado. David e Golias estavam de novo frente a frente. O jovem, com os companheiros, dizia: esta é a nossa terra. Histórias épicas de coragem e de risco, como estas, tinha-as lido na minha juventude, nas narrativas da indenpendência dos países europeus. agora, via-as com os meus olhos, aqui, neste monte. Desci a montanha rejuvenescido, não de exaltação, mas de decisão e gratidão.com o povo Nasa continuam caminhando a Gaitana, Juan Tama, Manuel Quintín Lame, Pedro León Rodríguez, Álvaro Ulcué, Cristobal Sécue. Recordando o ataque da manhã, quando a polícia expulsou o povo Nasa do monte, passaram na minha mente as palavras de um grande bispo americano, Pedro Casaldáliga: Soldados vencidos, de uma causa invencível. Não me tinha enganado quando aceitei o convite do padre Álvaro Ulcué, em 1982, para me aventurar nas montanhas de Toribio e do Vale do Cauca. Já estão em curso negociações entre o governo e o movimento indígena em Santander de Quilichao e Popayan. Esperamos que seja um passo firme até ao diálogo. Redescubramos o sentido genuíno de Pátria e Revolução. Reconciliemo-nos. Olhemos para as nossas crianças aterrorizadas, filhas de vítimas, filhas da guerra. a partir delas e com elas recomecemos a viver. Chega de massacres inocentes. Não burocratizemos este momento da história. Não ao medo, ao desânimo e à indiferença. Toribio, de ícone da guerra, passará a ser o laboratório da paz, o arco íris de um tempo novo.