São hospedarias de conventos ou mosteiros, lugares onde se pode passar um tempo diferente, seja em férias ou em outra ocasião.com os grandes espaços da natureza a envolver-nos e a possibilidade de rezar com as comunidades que ali vivem
São hospedarias de conventos ou mosteiros, lugares onde se pode passar um tempo diferente, seja em férias ou em outra ocasião.com os grandes espaços da natureza a envolver-nos e a possibilidade de rezar com as comunidades que ali vivemSão lugares mágicos, quase sempre. Lugares de tranquilidade e silêncio, de reencontro consigo mesmo e com Deus. Mosteiros e conventos são, há muitos séculos, também lugares de hospitalidade. E possibilidades de, na fuga do mundo, reencontrar o mundo. Em Portugal, há também sítios destes. Que podem ser também lugar para umas férias diferentes ou para tempos de descanso. Mosteiros e conventos que nos convidam à busca interior, à procura do melhor de nós mesmos, da natureza e de Deus. Onde o acolhimento aos hóspedes é uma das dimensões importantes da vida monástica ou conventual.começou tudo, podemos dizer, com São Bento. Iniciador da vida monástica tal qual a conhecemos hoje, Bento de Núrsia viveu num tempo em que o cristianismo, convertido por Constantino em religião de Estado, esmorecia nas suas práticas e relaxava a exigência de vida. Muitos crentes começaram, então, a retirar-se para lugares de silêncio e solidão, em busca de uma vida mais ascética e purificada. Bento de Núrsia foi um deles. Nascido cerca de 490, na Umbria italiana (onde, sete séculos depois, nasceria Francisco de assis), iria fixar-se numa gruta de montanha em Subiaco, a leste de Roma. Pelo ano de 530, Bento mudou para Monte Cassino. Tomou o texto da Regra do Mestre e, abreviando-a, sublinhou a perspetiva comunitária do monaquismo, estabelecendo também as formas de rezar, as normas de obediência, as regras sobre a propriedade ou a forma de acolher qualquer hóspede que chegue. Todos os hóspedes que se apresentam [no mosteiro] sejam recebidos como se fosse o próprio Cristo, pois Ele dirá [um dia]: Fui hóspede e recebestes-me. ‘, lê-se na Regra de São Bento. O acolhimento surge, também, assim como um desafio mútuo, para quem chega ou quem está: Com aqueles que acolhemos (… ) queremos procurar a maneira de recuperar um impulso e descobrir como viver Cristo para os demais. (… ) Em Taizé, gostaríamos que os jovens encontrassem a paz do coração, escreve o irmão Roger, de Taizé (Elige amar, ed. PPC, Espanha). Estamos já longe da fuga do mundo, presente no início do monaquismo. Que traduzia a ideia de desprezo por aquilo que o mundo significava de pecado ou desumanização. Um amílcar purificador, notava a escritora italiana Cristina Campo, sobre os eremitas e anacoretas: É o amílcar, a travessia o que conta para eles e que eles vieram ensinar, com os seus monossílabos siderais e as suas monumentais reticências: o ser irreversivelmente estranhos nesta terra, o viver exatamente como um homem que não existe’. (Ditos e Feitos dos Padres do Deserto, ed. assírio & alvim). Pode ser essa ideia de travessia, de ir de um lugar a outro das nossas vidas, que nos leve a procurar lugares como Tibães, Singeverga, Balsamão, Roriz, Valadares, Bande, alpendurada… a geografia destes lugares está sobretudo a norte, coincidindo com os movimentos de povoamento e de evangelização. Mas também em Fátima, Lisboa ou algarve há lugares assim, onde podemos ser acolhidos por comunidades monásticas. E onde cada hóspede pode contemplar a natureza, passear, ler, meditar, buscar o essencial, rezar com a comunidade que ali vive. O Mosteiro de São Martinho de Tibães (Braga) oferece-nos um reencontro com a história. antiga casa-mãe dos beneditinos portugueses, o mosteiro está situado numa zona rural e inserido numa quinta que fazia parte da antiga cerca monacal. Dentro desta, era suposto haver o necessário para subsistir: campo para a agricultura, floresta para extrair lenha, criação de gado, zonas de passeio e lazer… Fundado no final do século X, Tibães foi um dos mais importantes mosteiros portugueses, sujeito a sucessivas intervenções. a extinção das ordens religiosas, em 1834, levaria à venda do edifício e à sua posterior degradação. Há três anos, a hospedaria foi recuperada, com um belíssimo projeto de Eduardo Souto de Moura e entregue à congregação das irmãs da Família Missionária Donum Dei, que também gerem o restaurante Eau Vive (Água Viva) – em ambos os casos, é melhor reservar e os preços são equivalentes a outros estabelecimentos do género. Beneditinos são ainda os mosteiros de Singeverga, onde os monges continuam a guardar o segredo da produção do licor, e das monjas de Santa Escolástica (Roriz), situados muito próximos um do outro (Santo Tirso). ambos se inserem também numa paisagem rural, onde o casario disperso vem preenchendo espaços, mas sem retirar tranquilidade aos lugares monacais. Em Roriz, a hospedaria foi recentemente renovada. Mantendo a simplicidade e o despojamento característico de um alojamento monacal, os quartos são humanamente quentes e acolhedores. Bande (Carvalhosa, Paços de Ferreira), de monjas carmelitas, e alpendurada (padres carmelitas), têm ainda o mesmo género de paisagem rural. Em Bande, ao contrário dos outros espaços, a hospedaria está fora do mosteiro, num edifício autónomo. Os hóspedes podem optar por manter relação com o espaço monacal e as monjas, quer nos ritmos de oração quer na alimentação; ou por ficar autónomos, já que têm uma pequena cozinha ao seu dispor. a casa dos missionários da Boa Nova (Valadares, Gaia), ao contrário, está numa periferia urbana, mas mantém a tranquilidade e um grande espaço de campo, aliado a uma arquitetura original. O Convento de Balsamão (Macedo de Cavaleiros), dos padres Marianos da Imaculada Conceição, está no cimo de um monte, na Serra de Bornes. Deste miradouro natural, só se avista horizonte e os vários outeiros à volta, permitindo experiências de oração contemplativa pela natureza. Um lugar de espanto. São lugares, enfim, para alargar o olhar. No livro Um Deus Que Dança (ed. aO), escreve José Tolentino Mendonça: Reparai nos pássaros’. Reparai nos lírios’. Jesus convida-tea expandir o olhar, libertando-o dos rotineiros circuitos. Há quanto tempo não reparas? É tão fácil os olhos colarem-se ao chão e as visões ficarem reduzidas ao minúsculo círculo do eu. O desafio de Jesus é mudar a escala do nosso olhar. Repara além de ti. Fernando Pessoa escreveu: Nós somos da altura do que vemos’. O que é que tens visto? E como?.