a eleição de Bento XVI continua a suscitar interesse quanto ao seu pontificado. Há uma grande expectativa, a qual nem sempre é informada. Esperam-se mudanças, mas estas nem sempre são qualitativas.
a eleição de Bento XVI continua a suscitar interesse quanto ao seu pontificado. Há uma grande expectativa, a qual nem sempre é informada. Esperam-se mudanças, mas estas nem sempre são qualitativas. a grande notícia destes últimos tempos é sem sombras de dúvida o Papa. a morte de João Paulo II deu espaço a uma revisão da sua história e do seu pontificado, com os consequentes comentários de várias partes e vozes. Na televisão de Moçambique assistimos ao desfile dos responsáveis das várias confissões cristãs. Todos reconheceram que João Paulo II foi um grande Papa e que ensinou coisas importantes e de valor. até apetece recordar o texto de Lucas 6,46: “Porque Me chamais Senhor, Senhor e não fazeis o que digo?”

Com a eleição de Bento XVI o Papa continuou a ser notícia. a grande pergunta que atormenta os jornalistas e as pessoas em geral é: Que vai mudar na Igreja? De maneira mais especifica: Quais as liberdades que o novo Papa vai implementar? No topo da lista encontramos a questão do aborto, depois o preservativo, os homossexuais e todas as outras questões em que a Igreja vai contracorrente. a resposta a estas perguntas encontramo-la em Mt 10,24: “O discí­pulo não está acima do seu mestre, nem o servo, acima do seu senhor”.

Para a maioria dos Moçambicanos estes são acontecimentos inéditos, pelo facto do pontificado de João Paulo II ter durado 27 anos e de só recentemente terem a possibilidade de saber o que se passa no resto do mundo. O “povo” segue estes acontecimentos com sentimento e expectativa, mas talvez sem compreender todas as implicações a eles inerentes. a figura do Papa sem dúvida é respeitada e amada, mas de facto é uma figura distante que deste modo não pode afectar as preocupações do dia a dia. é a figura dum velhinho vestido de branco que vive lá longe e de vez em quando vem visitar e se faz uma grande festa. Os seus ensinamentos chegam às pessoas como imposições e proibições transmitidas pelos pastores do dia a dia, que, talvez, já estão fartos de ouvir.

aquela minoria que definimos como intelectuais, tem a possibilidade de tirar algumas conclusões. Tem a possibilidade de visitar a história, de fazer estatí­sticas, de formular conjunturas e hipóteses.

a nomeação de Bento XVI foi acolhida com aprovação e alegria. Mas após o momento de euforia, lógica consequência da espera e da expectativa, agora começam as dúvidas. apareceu num dos jornais um título cómico mas também emblemático: “agora a Igreja já tem um Pastor alemão”.

Sem dúvida a eleição de Bento XVI admirou, mas não tanto. O cardeal Ratzinger foi o grande protagonista dos últimos acontecimentos no Vaticano. Ele presidiu ao funeral e ao início do conclave, além do mais era uma figura de relevo. alguém comentou que ele é talvez o maior teólogo vivo (eu acrescentaria católico) o que não deixa de ser verdade. a mim pessoalmente admirou-me a sua eleição não pela sua pessoa, mas pelos inimigos que o cargo por ele ocupado lhe procurou.

O teólogo Ratzinger era aberto ao diálogo e soube reconhecer as conquistas, os valores e os ensinamentos da ciência humana. Defendeu a necessidade do diálogo entre fé e razão. Não era nem fundamentalista, nem retrogrado. O Perfeito da Congregação para a Doutrina da Fé era uma pessoa dedicada ao seu trabalho, que lia e dava o devido valor às obras publicadas. Podemos dizer que realizou diligentemente o serviço que lhe foi confiado, ainda que para isso tivesse de intervir no seu próprio país e sujeitar-se às críticas da imprensa. Certamente não podemos zangar-nos com uma pessoa, a quem pedimos para ser polícia, se depois nos dá uma multa quando infringimos a lei. Seja como for, de maneira geral, dá a impressão de que tinha uma certa razão quando interveio.

Duma maneira geral os recentes discursos de Bento XVI dão a entender que a moral da Igreja não vai mudar de maneira drástica ou relevante. as mudanças na Igreja Católica levam anos, senão séculos, a realizar-se. Um Papa com os seus 78 anos pode iniciar alguma coisa (cfr. João XXIII), mas não esperemos grandes mudanças. O importante é que os responsáveis da Igreja tenham presente que toda e qualquer moral Católica deve ser marcada pela misericórdia e deve ter em consideração a pessoa humana com as suas virtudes e limites, a sua beleza e imperfeição.