No terreiro diante da igreja estavam desenhados, no chão, os símbolos da Eucaristia. as ruas não estavam enfeitadas nem casas tinham as colchas às janelas. Mas não faltaram devotos que acorreram à porta da casa para saudar o Deus da Eucaristia
No terreiro diante da igreja estavam desenhados, no chão, os símbolos da Eucaristia. as ruas não estavam enfeitadas nem casas tinham as colchas às janelas. Mas não faltaram devotos que acorreram à porta da casa para saudar o Deus da Eucaristia a procissão do Corpo de Deus passou pelas ruas, numa visita rápida, à volta da igreja de São Brás, em Plataforma, um bairro nos arredores de Salvador da Baía, voltado para o mar. Quinta-feira de Corpo de Deus é feriado e muitas pessoas viajaram. Foram visitar os familiares, de modo que a celebração deixou marcas de desilusão nos católicos mais activos e fervorosos da paróquia, que lembram velhos tempos em que a praça em frente do templo era pequena para conter tanta gente.

O cortejo atravessou o mercado, diante da igreja, bem recheado de bens da natureza: montões de amendoim acabado de colher, pilhas de espigas de milho verde prontas para cozer ou assar e muitos outros frutos. Na rua principal circulavam carros e motos que um leigo da comunidade teve dificuldade em condicionar para que a procissão pudesse realizar-se. Valeu a chegada de uma patrulha da polícia municipal para ajudar. Cantando e rezando, com o som amplificado por um carro de comícios e festas do município – o prefeito é católico e colabora muito com a Igreja, dizia alguém da paróquia – o cortejo foi percorrendo lentamente o percurso estabelecido.

O ambiente tinha todo o jeito de se parecer com as caminhadas de Jesus pelas estradas da Galileia. Uns quantos seguiam-no pelas promessas ou adesão à sua doutrina; ou ainda por interesse ou curiosidade. a maioria era indiferente, uns sentados nos cafés ou nas barbearias, outros nas lojas fazendo compras. Outros ainda procediam aos seus trabalhos de pedreiro, mecânico ou outra profissões. Deu-se o caso que até uns cavalos, que se passeavam pela rua, se abeiraram da procissão, atrapalhando-a. O cortejo passou diante de lugares de culto de diversas religiões. Um ambiente típico de um bairro de periferia com as suas riquezas humanas e as suas fragilidades sociais bem visíveis.

Num ambiente tão eclético e prolixo, um gesto chamou a atenção dos passantes. Todas as vezes que alguém abria a janela ou porta da casa, o sacerdote parava e voltava-se para as pessoas. Num gesto de resposta, umas diziam adeus a Jesus, acenando com a mão, outras ajoelhavam-se respeitosamente balbuciando uma oração, talvez a saudar ou a pedir uma graça. Pequenos gestos de fé neste ambiente tão diversificado, mas respeitador da fé de cada um, que encontra espaço para a exprimir publicamente.