“O senhor vinga com justiça os oprimidos e entrava o caminho dos pecadores”, canta o salmo 146, depois da primeira leitura do 32º Domingo Comum
“O senhor vinga com justiça os oprimidos e entrava o caminho dos pecadores”, canta o salmo 146, depois da primeira leitura do 32º Domingo ComumEsta leitura relata um facto da vida de um dos maiores amantes de Deus do século VIII a. C. O profeta Elias ardia de zelo pelo Senhor (1Reis 19,10). ameaçado severamente pelo rei acab, de Israel, foge o profeta para a cidade de Sarepta, no reino de Sídon. Lá não era conhecido o verdadeiro Deus e alastrava, nesse tempo, uma carestia terrível. Fica o profeta hospedado em casa de uma pobre viúva. Por acção de Deus, mediante a palavra de Elias, não se esgotarão nem o pão nem o azeite na casa daquela pobre senhora. Pão e azeite são aqui símbolo do alimento de que precisam os seres humanos para viver e que a terra, por ordem de Deus, continuamente produz para a humanidade (cf. Génesis, capitulo 1).
Deus Providência deu à terra a capacidade de produzir o suficiente para todos os seres humanos. Infelizmente, a maldade e a avareza de alguns açambarcam a maior parte das riquezas da terra, deixando pouco para boa parte da humanidade. Milhões e milhões de pessoas morrem devido, muitas vezes, à avareza sovina dos que enriquecem à custa dos outros.como diz o rifão brasileiro, o peixe grande torna-se grande porque come o peixe pequeno. Mas que maravilha meditar nos milagres naturais que nos cercam continuamente e que nos vêm de Deus. Imaginemos, por exemplo, o nosso sistema de imunização, a produção de defesas contra os males que nos atacam: que maravilha estabelecida por Deus! E que maravilha a de acreditarmos que estas maravilhas não nos advêm por acaso ou por nossa própria decisão, como tantas vezes proclama o egoísmo humano! É o amor sem limites que nunca esquece aqueles que do seu Coração Ele formou. Milagres, tantos! Como o do Sol em Fátima; como o das sementes que na terra produzem o alimento para manter e desenvolver a nossa vida; como o do olá dum bebé; milagres dos corações endurecidos que, a uma certa altura, se mudam em solidariedade e em amor para com o próximo, especialmente para com os mais necessitados; milagres de gente que é capaz de dar a vida pelos outros, num rompante de generosidade ou pouco a pouco, e mais, e sempre mais. E mais um milagre natural produtor de serenidade e satisfação para todos nós: sermos capazes de descobrir a existência destes milagres, quando perdemos as peneiras de uma vaidade monumental e acreditamos na verdade da Verdade.
Em Novembro de 1952, encontrava-me eu em Turim, Itália, onde estudava filosofia no seminário da Consolata. Um domingo, estava de visita a uma paróquia da cidade, para distribuir calendários das missões aos que saíam da igreja da paróquia de Santa Luzia. Quem queria, dava uma esmola para as missões. De repente, no meio de toda a aquela gente, aproxima-se de mim uma senhora ainda jovem, muito simplesmente vestida de preto, com uma criancinha numa mão e outra num braço. Deitou uns cêntimos no saquinho e disse: Olhe, não levo o calendário porque a minha oferta é pequena demais. Sou viúva e muito pobre. Continuem a vossa boa obra. Deus lhes pague. Fiquei tão embasbacado ao ver nela a viúva do evangelho de hoje, que nem reagi para lhe dar um, dois ou três calendários. Quando finalmente acordei desta espécie de delírio, já ela se tinha diluído na multidão. Ficou sempre cá dentro de mim como que um cantinho vazio, um pequeno remorso, provocado pela visão daquela cena evangélica. Daquela pobre viúva e da viúva do evangelho de hoje, disse Jesus: Esta pobre viúva deitou mais no tesouro do Templo do que todos os outros. Foi da sua penúria que ela ofereceu tudo quanto possuía. (Marcos 12, 43-44). Milagre? De primeira, tantas vezes repetido nos nossos dias por amigos do Bem que, de bem, fazem todo o que podem. Para glória de Deus e da humanidade.