São os frutos mais belos da evangelização do Uganda
São os frutos mais belos da evangelização do UgandaNamugongo: é assim que se chama o lugar onde se veneram os mártires ugandeses. É um lugar cheio de luz, irradiada pelo sacrifício de numerosos filhos da Igreja ugandesa, que deram a vida por Cristo entre 1885 e 1887. À volta de 200 pessoas, entre católicos e anglicanos.
Por entre o verde dos abetos surgem hoje dois santuários que recordam o sacrifício heróico destes mártires. Foi aí que João Paulo II no mês de Fevereiro de 1993, tal como Paulo VI em 1969, rezou prolongadamente e indicou aos africanos e a toda a Igreja a força do seu testemunho: O seu exemplo – disse o Papa – recorda-nos o enorme poder da graça de Cristo, capaz de transformar a fraqueza em força, a tristeza em alegria, a morte em vida eterna Rezemos para que a sua força redentora sustenha os cristãos do nosso tempo no seu testemunho do Evangelho e na procura de uma plena unidade na fé, na esperança e no amor (Oss. Rom. 7/2/93).
O fermento de uma pequena comunidade
Os primeiros Padres Brancos, fundados pelo cardeal Lavigerie, iniciaram a evangelização da Uganda em 1879. Foram inicialmente bem acolhidos, mas tiveram que deixar o país em 1882, porque alguns comerciantes árabes convenceram o rei Mutesa a opor-se aos brancos. Em 1884, o jovem rei Mwanga abriu-lhes novamente as portas para continuarem o trabalho de evangelização. Muitos nativos africanos, até mesmo pajens da corte, foram catequizados. Bem depressa, porém, a perseguição atingiu a comunidade nascente, sobretudo o grupo dos pajens, cuja vida contrastava com o ambiente viciado da corte e o próprio rei decidiu acabar com a presença cristã na Uganda.
Pouquíssimos anos de evangelização tinham sido suficientes para criar uma verdadeira comunidade cristã. Os Missionários tinham procurado formar pessoas maduras que se sentissem responsáveis da sua vocação cristã: surgiu assim um pequeno grupo que se tornou o fermento que haveria de levedar a massa. Os Missionários ensinavam-lhes que, para conquistar almas a Cristo, deveriam meditar todos os dias as suas Palavras e os exemplos que deixou e aprender a sacrificar-se e a sofrer pela salvação dos seus irmãos. José Mukasa, o mordomo da corte real, o protomártir da Uganda, amado e estimado indistintamente por todos, pelos pagãos, pelos muçulmanos e pelo próprio rei – segundo as palavras do padre Lourdel – era verdadeiramente o modelo da nova cristandade nascente pela seriedade, piedade e caridade que demonstrava e pelo zelo com que se dedicava à conversão dos jovens pajens da corte.
O mesmo se diga de andré Kagwa, outro mártir, cuja casa, sempre acolhedora, se tornara lugar de reunião de cristãos e de catecúmenos, onde se rezava, se ensinava a religião e se tomavam várias iniciativas. Também Matias Malumba era chefe de um outro grupo muito activo, a 12 horas da capital. as suas palavras – narra uma testemunha – eram como mel e tanto a sua casa como a sua bolsa estavam sempre abertas para quem precisasse. Todas as semanas, mandava à missão um dos seus homens para receber instruções que ele repetia a todos os membros da sua comunidade.
Tendo ficado sem Missionários, experimentaram durante 32 meses a eficácia deste apostolado. Os pajens da corte, instruídos por José Mukasa, tinham idades que iam dos 12 aos 25 anos: nove destes, entre os quais se encontrava Carlos Mwanga, eram destinados ao martírio.
Quando José Mukasa foi decapitado e queimado em 1885, é Carlos Lwanga que, no palácio real, agarra o testemunho. À sua volta reúnem-se espontaneamente todos os pajens cristãos. Unidos entre si, procuram espantar o medo, sentindo-se deste modo mais fortes do que nunca. Diziam: Perseveremos com coragem! Quando o rei quiser mandar matar-nos, saberemos morrer como nos ensinou o nosso chefe.
Foi verdadeiramente singular este caminho feito em conjunto, na catequese recebida e logo transmitida, no mútuo encorajamento e na oração às ordens de Carlos Lwanga. Era o Espírito de Cristo que os sustinha e fortalecia e os manteve unidos entre si até à hora do martírio. a Kizito, que manifestava um certo receio perante o que poderia acontecer, diz Carlos Lwanga: Quando chegar o momento dar-me-ás a mão e unidos daremos coragem um ao outro.
a perseguição teve o seu desfecho na fogueira de Namugongo, a 3 de Junho de 1886. No caminho rumo ao lugar do martírio, apoiam-se mutuamente, recitando o terço e pedindo a Deus coragem para enfrentarem os sofrimentos que os esperam. Rezam sobretudo para que os mais fracos não sucumbam. E de facto, foram fortes até ao fim, e enfrentaram o suplício com rara coragem e alegria. O rei mandou que Carlos Lwanga fosse o primeiro a morrer, queimado vivo, esperando que os outros renegassem a fé e evitassem morte. De nada serviu, porque todos eles permaneceram firmes na sua fé e foram e brutalmente martirizados.
Os vinte e dois mártires da Uganda foram beatificados em 1920 e canonizados em 1969 pelo Papa Paulo VI por ocasião da sua visita a esse lugar sagrado.
Católicos e anglicanos: juntos no martírio
ao lado dos mártires católicos, que os Padres brancos tão solidamente prepararam, encontramos um número razoável de mártires anglicanos. De formação diversa, certamente, mas unidos pela mesma fé em Cristo. Nos dias da prisão rezavam juntos e encorajavam-se mutuamente. a sua fidelidade fez com que se misturassem os sangues e as cinzas desses mártires. Navegamos todos no mesmo barco declarava o padre Lourdel ao missionário anglicano Mackay que, por seu lado, acrescentava: a dor une as pessoas. No passado não tinham faltado discórdias, fruto do modo diverso de anunciar o Evangelho. Mas agora tudo fica queimado pelo Espírito que une e fortalece. De facto também os anglicanos, pertencentes alguns deles às mesmas famílias dos católicos, manifestaram igual coragem na confissão da sua fé. Visitando e rezando prolongadamente no santuário de Namugongo, João Paulo II quis recordar também estes mártires e a Igreja a que pertenciam: Vale a pena exprimir a emoção que experimento neste lugar do martírio dos vossos antepassados, os mártires ugandeses, católicos e anglicanos, unidos e queimados pelo mesmo fogo. Era o fogo do Espírito Santo Que este fogo divino nos torne unidos na mesma Igreja, na mesma unidade de Jesus Cristo através do seu Espírito Santo (Oss. Rom. , 8/2/93).
São frutos da Missão
Os mártires são o comentário mais belo do Evangelho, porque, incarnando a Palavra de Deus e testemunhando-a com o sangue, tornam-se um caminho para Jesus. Diziam estes mártires na despedida: Estão-nos levando embora, mas nós vamos para o céu a preparar um lugar também para vós. Uma fonte com muitas nascentes não pode secar. Quando formos mortos, outros virão depois de nós. O actual florescimento da Igreja na Uganda e em toda a África deve-se também ao sacrifício destes mártires. Tornou-se uma Igreja, como a dos primeiros séculos, irrigada e fortalecida pelo sangue dos mártires. Foi essa a sensação de Paulo VI, quando em 1969, visitando Namugongo, disse: Os vossos mártires ensinam-nos como devem ser os verdadeiros cristãos, sobretudo os mais jovens, os africanos. Os cristãos devem ser corajosos, devem ser fortes amai muito Jesus Cristo, sede fiéis à Igreja, permanecei sempre alegres! Porque a vida cristã, recordai-o, é muito linda.
as gerações de leigos, catequistas, sacerdotes, religiosos e religiosas, que brotaram do sacrifício destes autênticos africanos dizem-nos que os frutos mais belos da evangelização não são os hospitais, as escolas, as maternidades e as numerosas obras sociais, decerto necessárias e urgentes. Os frutos mais preciosos são as pessoas que nascem do anúncio da palavra de Cristo. De facto, antes ainda da acção, a missão é testemunho e irradiação (RM 26).