Boa parte do elenco da série é crente – começando por Jonathan Roumie, que faz o papel de Jesus. Foto: Direitos reservados

Já foi vista por 250 milhões de espectadores, teve 800 milhões de visualizações e conta com 25 mil seguidores nas redes sociais e, agora, o grupo representante da série em Portugal, que se constituiu com o objectivo de apoiar a divulgação, pretende aumentar a sua difusão no país e, ao mesmo tempo, possibilitar que ela seja um apoio à educação cristã e à vida pastoral: The Chosen/Os Escolhidos é uma série televisiva disponível em plataformas digitais de acesso livre e conta a história de Jesus a partir do olhar dos que com ele contactaram mais de perto.

Até agora, Os Escolhidos está traduzido em 65 línguas. Na apresentação da série, numa conversa com jornalistas quarta-feira, dia 19, em Lisboa, Francisco Villalôbos diz que o objectivo é que a dinâmica se constitua num “movimento”, de modo a chegar às 600 línguas e mil milhões de pessoas a verem a série. Em sete temporadas (cinco já estão disponíveis gratuitamente na página da série, https://watch.thechosen.tv, a sexta está em fase de produção), tenta mostrar-se “um Jesus que ri, chora e não é indiferente à vida das pessoas”, mas cuja “divindade” não deixa de estar presente também. E um Jesus, acrescenta o padre jesuíta Paulo Duarte, “que se complementa com os escolhidos”, pois cada episódio “permite ter um olhar sobre Jesus a partir dos que andam à sua volta”, que se traduz num “olhar mais humano” sobre a história narrada pelos evangelhos.

No primeiro episódio, a narrativa constrói-se à volta de Maria Madalena (apresentada como possuída por espíritos, de acordo com a linguagem tradicional), o pescador André (que se tornará um dos seguidores de Jesus), o fariseu Nicodemos (personagem fulcral ao longo de toda a história, dizem os dois responsáveis), Mateus (o cobrador de impostos que também integrará o grupo de Jesus) ou o procurador romano Quintus. Jesus só aparece no final, a falar com Maria Madalena, chamando-a pelo nome – e vem dessa cena o título desse episódio inaugural, Chamei-te pelo nome.

Há um enquadramento ficcional e uma “grande liberdade criativa” que é seguida pelos produtores (Chad Gundersen e Justin Tolley) e pelo realizador (Dallas Jenkins) da série. Não se conta apenas o que está no texto bíblico, mas para os pormenores e as histórias que foram acrescentados houve especialistas que acompanharam a realização, para poder construir uma narrativa que pudesse ser verosímil.

Desengane-se, no entanto, quem achar que tem na série uma leitura mais interpretativa de Jesus, como no caso de Pasolini com o seu Evangelho Segundo São Mateus, Norman Jewison com Jesus Christ Superstar ou a violência extrema de Mel Gibson em A Paixão de Cristo. Apesar de, em alguns pormenores, como a presença das mulheres entre os seguidores de Jesus, a série dar conta de algumas questões objecto de debate na exegese bíblica contemporânea, o Jesus de Os Escolhidos é uma figura segundo a convenção tradicional dos evangelhos, numa leitura que apenas se fixa na palavra e nas curas reproduzidas nos evangelhos.

Iniciativas de Natal

Apesar disso, aparecem pormenores que quebram essa leitura tradicional: no episódio das bodas de Caná, há um registo de humor com os discípulos a dançar; aparece uma mulher estrangeira, Tamar, entre o grupo dos seguidores; e Jesus não se reduz a um milagreiro. Mas, mesmo com esses pormenores, o Jesus de Os Escolhidos “não sai do cânone”, admite Paulo Duarte.

Outro elemento destacado por Francisco Villalôbos e pelo padre jesuíta é que uma boa parte do elenco é crente – começando por Jonathan Roumie, que faz o papel de Jesus. Antes de filmar, vários juntam-se para rezar, o que dá uma maior autenticidade ao desempenho, sublinham. Mas também há casos como o de Vanessa Benavente, actriz peruana que assume na série o papel da mãe de Jesus: Paulo Duarte falou pessoalmente em tempos com ela e a actriz, assumindo-se descrente, dizia que a série “mudou a sua vida”.

Não se assumindo como qualquer “alternativa à Igreja” – Os Escolhidos quer penetrar públicos católicos, evangélicos e não só –, as estratégias de divulgação passam agora por iniciativas que aproveitam o Advento e o Natal, com a divulgação do filme Noite Feliz, centrado na história do nascimento de Jesus vista pelo olhar de Maria, José e os pastores – há já 50 comunidades inscritas para ver o filme até 6 de Janeiro, depois das 36 do ano passado. O mesmo filme será projectado no Tagus Park no próximo dia 12 de Dezembro, numa sessão organizada em parceria com o Patriarcado de Lisboa e cujos detalhes estão a ser ultimados.

A par disso, o projecto inclui a “Sala de Aula dos Escolhidos”, uma iniciativa destinada a acompanhar a primeira temporada da série, através de um guião que pretende que crianças e jovens tenham “um encontro profundo com o Jesus autêntico”. Cada etapa inclui a sinopse do episódio, ideias de temas para debater, perguntas e tópicos para fomentar a reflexão e o diálogo, e ainda a sugestão de actividades individuais ou de grupo.

Os Escolhidos teve um orçamento inicial de 10 milhões de dólares. Filmado inicialmente no Texas (Estados Unidos) e em Cafarnaum (Israel), a produção evoluiu depois e a quinta temporada, A Última Ceia, que estreou em vários cinemas em Abril, teve já um orçamento de 48 milhões de dólares. Todas as temporadas da série já concluídas, bem como outros materiais e vídeos extras, podem ser vistos nas aplicações da série ou na sua versão portuguesa.

A próxima temporada deverá centrar-se nos acontecimentos da Sexta-feira Santa, com os acontecimentos da crucificação e morte de Jesus, e a sétima na ressurreição e nos acontecimentos posteriores. Entretanto, uma série animada, The Chosen Adventures, ainda não disponível em Portugal, vem também a caminho. E, de acordo com Francisco Villalôbos, depois desta série, virão aí novos projectos para contar o que está contido no livro dos Actos dos Apóstolos e a história de José do Egipto, contada no Génesis, primeiro livro da Bíblia.

Texto redigido por António Marujo/jornal 7Margens, ao abrigo de uma parceria com a Fátima Missionária. O autor escreve segundo a antiga ortografia.