Angola é o último país lusófono africano a celebrar os 50 anos da sua independência. A festa grande é esta terça-feira, 11 de novembro. A Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) publicou, a 17 de julho, uma longa e bem trabalhada mensagem para celebrar os 50 anos da independência. Começa por referir todos os ganhos de uma vitória frente ao colonialismo. E, depois de deixarem claro que a independência é uma graça a celebrar, os bispos têm a coragem de pôr o dedo em algumas das feridas abertas e ainda não cicatrizadas. Falar de “imperativos para mudança” é assumir a missão profética de corrigir erros e propor caminhos de futuro assentes nos valores que constroem um país com cidadãos livres, responsáveis e comprometidos. A parte final consta de dez apelos, todos a apontar para um futuro de justiça, paz, democracia e respeito pelos direitos humanos.
Longo caminho para a liberdade
São interessantes e desafiantes as comparações entre colonialismo e neocolonialismos, as citações das intervenções dos Papas João Paulo II e Bento XVI em Angola, a ligação ao Jubileu da Igreja e seus valores, bem como as referências a algumas das mensagens mais marcantes da CEAST ao longo destas últimas cinco décadas de Angola. João Paulo II, na sua visita em 1992, num tempo de paz e de eleições, referiu a importância da “consolidação de Angola como um estado de direito, assente nos valores e nos princípios da vida, da justiça social e do respeito mútuo”. Esta mensagem refere, numa primeira parte, aspetos positivos evidentes: “são luzes que aplaudimos e de que nos orgulhamos”.
“Imperativos para a mudança”
Com espírito crítico e construtivo, a CEAST aponta alguns “imperativos para a mudança” que se impõem, para bem do povo. Fala de “estender a justiça social em favor de todos (…), com igualdade de oportunidades, prestando mais atenção à exigências da justiça social”. É importante e necessário reconhecer “os nossos erros, as nossa sombras e insuficiências”. Falam os bispos do “pouco apoio à agricultura familiar”; do “contrabando e purga de minerais, inertes, combustíveis e outros recursos públicos; deficiente política educativa; falta de saúde de qualidade; aberrante e alarmante desvio de fundos públicos, escandalosa expatriação de capitais, degradação do meio ambiente; escandalosa lógica de oportunismo; crescimento desordenado das cidades; falta de estradas, pontes e várias outras infraestruturas públicas”… e a convicção de que há restrições à liberdade de expressão; o sistema político é centralizado e autocrático; e os conflitos herdados do passado mantêm reflexos nefastos nas relações de hoje entre os partidos…
Mas o balanço é positivo
Tudo somado, a independência foi um ganho enorme. É importante que “Angola seja cada dia mais independente e soberana”. Entre os apelos finais, saliento o último que diz que “é fundamental a educação das novas gerações nos valores sociais, culturais, éticos e cristãos, para que elas percebam que são o presente e o futuro da nação”.








