Papa Leão XIV acolheu celebração ecuménica que reuniu 24 delegados de várias Igrejas e comunidades cristãs. Foto © Vatican Media, via Agência Ecclesia.

O Papa denunciou domingo, 14 de setembro, a perseguição aos cristãos, no século XXI, falando numa celebração ecuménica que evocou mais de 1600 “novos mártires” de várias confissões, no contexto do Jubileu promovido pela Igreja Católica “Infelizmente, apesar do fim das grandes ditaduras do século XX, ainda hoje não acabou a perseguição aos cristãos; pelo contrário, em algumas partes do mundo, aumentou”, disse, na homilia da comemoração dos “Mártires e Testemunhas da Fé do século XXI”, que decorreu na Basílica de São Paulo Fora de muros, em Roma.

A cerimónia incluiu leituras bíblicas, antes da reflexão de Leão XIV, a proclamação das bem-aventuranças, intenções de oração e a apresentação da história de vida de algumas testemunhas de fé, como a irmã Leonella Sgorbati, morta na Somália em 2006, ou um grupo de cristãos evangélicos mortos por terroristas em 2019, no Burquina Faso.

“São mulheres e homens, religiosos e religiosas, leigos e sacerdotes, que pagam com a vida a fidelidade ao Evangelho, o compromisso com a justiça, a luta pela liberdade religiosa onde ela ainda é violada, a solidariedade com os mais pobres”, indicou o Papa.

Leão XIV destacou a importância de celebrar estes “corajosos testemunhos de fé”, num Ano Santo dedicado ao tema da esperança. “É uma esperança cheia de imortalidade, porque o seu martírio continua a difundir o Evangelho num mundo marcado pelo ódio, pela violência e pela guerra; é uma esperança cheia de imortalidade, porque, apesar de terem sido mortos no corpo, ninguém poderá silenciar a sua voz ou apagar o amor que deram; é uma esperança cheia de imortalidade, porque o seu testemunho permanece como profecia da vitória do bem sobre o mal”, precisou.

O Papa apresentou os mártires como símbolo de uma “esperança desarmada”. “Eles testemunharam a fé sem nunca usar as armas da força e da violência, mas abraçando a força frágil e mansa do Evangelho”, acrescentou.

Esta celebração ecuménica reuniu 24 delegados de várias Igrejas e comunidades cristãs. O Papa começou por saudar os representantes das Igrejas Ortodoxas, das antigas Igrejas Orientais, das comunhões cristãs e das organizações ecuménicas, convidadas para esta celebração.

Parolin contra discursos simplistas sobre migrações

O secretário de Estado do Vaticano contestou os discursos “simplistas” sobre as migrações, alertando para a tentação dos “populismos” na Europa, numa altura em que Portugal mergulha também nesses discursos.

“É uma tentação muito difundida encontrar, por assim dizer, quem resolva todos os problemas com uma varinha mágica Depois, quantas dessas promessas não são cumpridas, não é? E não só ficam por cumprir, como criam mais problemas, mais dificuldades”, alertou o cardeal Pietro Parolin, em entrevista à Agência Ecclesia, na Nunciatura Apostólica (embaixada da Santa Sé), em Lisboa.

O colaborador do Papa destacou que o tema das migrações é “muito complexo, com muitas facetas, muitas dimensões”, como acontece com o “tráfico de seres humanos”. “Isso deve ser tido em conta no seu conjunto, para dar uma resposta que seja realista. Creio que é muito difícil encontrar essa resposta. Na minha opinião, o que se deve fazer, acima de tudo, é tentar mudar a mentalidade, que hoje, infelizmente, se torna predominante, que é a da rejeição, tentar entrar numa dinâmica de acolhimento”, apontou.

Palestina: “Tudo o que está a acontecer está a aumentar o ódio entre as partes”

Na mesma entrevista, Pietro Parolin reforçou o apelo a negociações no Médio Oriente e na Ucrânia, afirmando que a guerra entre Israel e o Hamas, em Gaza, está a “aumentar o ódio”, na região. “Tudo o que está a acontecer está a aumentar o ódio entre as partes. Quando não há um mínimo de confiança, um mínimo, de abertura em relação ao outro, tudo se torna muito mais difícil.”

O secretário de Estado do Vaticano denunciou a “situação desumana” que vivem as crianças de Gaza, após a intervenção militar de Israel. “Como poderão pensar em termos de paz e respeito também por Israel, respeito pelo povo judeu, quando passaram por experiências tão traumáticas? É preciso evitar criar estas situações que depois se tornam insolúveis”, advertiu.

Para o cardeal Pietro Parolin, o caminho passa por “ajudar as pessoas a sentir-se irmãs, a superar esta dimensão do inimigo e do adversário”, criando “as condições que possam levar à paz”.

Texto: 7M/Agência Ecclesia