Ilustração: David Oliveira | Texto: Teresa Carvalho

De passo ligeiro, pele morena do sol, olhar tranquilo e sorriso pronto, Rosa já conta com 78 anos de vida.
Nasceu numa família numerosa, onde a partilha de tudo fazia parte da vida, desde o amanhecer ao deitar. Partilhavam risos, trabalhos, sonhos, cuidados.

A sua história é, desde que se lembra, feita de páginas de dedicação à família, desde os pais aos irmãos e sobrinhos. Este era, para ela, sonho bastante.

Foi a pensar neles que assumiu sair de casa e ser independente para poder ser trampolim para os sonhos dos que precisariam dela. Com essa motivação, fez um curso de ajudante de educadora e iniciou uma profissão que lhe permitia realizar aquilo que melhor sabia fazer: cuidar!

Depois, até parece que foi fácil, porque Rosa andava sempre a sorrir: arrendou uma casa na cidade, próximo de escolas, e transformou o seu “cantinho” no espaço de acolhimento de todos os sobrinhos que precisassem de alojamento na cidade para continuar a estudar. Era como se fosse uma república de estudantes, em que todos eram primos.

Mas Rosa queria mais: queria ser ponto de encontro da família. Não se percebe como conseguiu, mas conseguiu. Construiu uma casa de dimensão suficiente para juntar a família e cultivou os terrenos com paixão. A tia Rosa conseguiu acolher ao longo do tempo 11 sobrinhos que concluíram cursos e puderam lançar-se na concretização dos seus sonhos maiores.

Tudo isto teve um custo para Rosa. Pelo menos era visto assim pelos que não entendiam o seu jeito de cuidar e aquilo que entendia ser a sua missão: Rosa não cuidava de si, dizia-se. Evitava gastos consigo mesma, pelo que era apontada a dedo como alguém que não acompanha as modas ou os colegas nos seus programas sociais, que “não alinha”.

Rosa, era assim: esquecia-se de si, do seu conforto, do seu cansaço. A sua vontade estava concentrada em cuidar. Não era pessoa de muitos abraços – os abraços eram dados em forma de ação incansável, para que nada faltasse.

Um dia, a tia Rosa adoeceu. Era doença grave, dizia-se. Mas Rosa não se deu ao direito de ficar doente muito tempo. Depois de uma cirurgia, continuou no seu ritmo habitual, e, um problema que parecia fatal, tornou-se apenas em mais um episódio que Rosa ultrapassou. Parecia inquebrável, esta senhora!

E assim, na casa da tia Rosa, aos 78 anos quase sem rugas, as grandes panelas, o forno a lenha que faz pão, os frutos frescos da horta, o quintal onde se fazem corridas, o ambiente solto e livre, oferecem a magia para a algazarra, as brincadeiras, os risos, os reencontros.

Tia Rosa está aí, de sonho realizado, a plantar a sua horta e a distribuir cuidados por todos os que ainda querem deixar-se cuidar por ela. Não tem muito jeito para ser cuidada, mas o seu sorriso é cada vez mais luminoso, feito de agradecimento a Deus e à vida que lhe sorri.