O exército israelita atacou com um míssil às primeiras horas de domingo, 13 de abril, o último hospital em funcionamento na Faixa de Gaza, agravando uma situação que já é de catástrofe humanitária, com o bloqueio que Israel está a fazer há mais de um mês aos camiões com ajuda de alimentos, água e medicamentos.
Trata-se do Hospital Árabe al-Ahli, situado na cidade de Gaza, uma instituição administrada pela Igreja integrante da Comunhão Anglicana. Foram danificados o laboratório genético, de dois andares, a farmácia e as instalações do departamento de emergência. Registaram-se ainda danos em edifícios vizinhos, incluindo o edifício da igreja de S. Filipe.
Segundo a BBC, as Forças de Defesa de Israel (IDF, da sigla em inglês) disseram que atacaram o Hospital porque ele continha um “centro de comando e controle usado pelo Hamas”.
Responsáveis pelo Hospital informaram que foi recebida, apenas 20 minutos antes do ataque, uma ordem dos militares israelitas para que fossem imediatamente evacuadas as instalações, o que terá permitido salvar vidas. Porém, na confusão gerada pela pressa da evacuação, uma criança que havia sofrido anteriormente uma lesão na cabeça, acabou por morrer.
A Diocese de Jerusalém da Igreja Episcopal (que integra a Comunhão Anglicana) emitiu um comunicado sobre este atentado, no qual se diz “horrorizada com o bombardeamento do hospital — o que acontece pela quinta vez desde o início da guerra, em 2023 — e desta vez na manhã de Domingo de Ramos e no início da Semana Santa” dos cristãos.
Aquela Diocese apelou “a todos os governos e pessoas de boa vontade para intervirem de modo a pôr termo a todos os tipos de ataques a instituições médicas e humanitárias”. “Oramos e pedimos pelo fim desta terrível guerra e o sofrimento de tantos”, concluiu.
Importa referir que este é apenas um pequeno episódio numa situação tão grave que o secretário-geral da ONU, António Guterres, não hesitou, na última terça-feira, em designar Gaza como “campo de extermínio”, um termo que tem ressonâncias claras para os judeus.
Desde que interrompeu o cessar fogo que esteve em vigor, em 1 de março, Israel bloqueou o fluxo do abastecimento da ajuda humanitária e sanitária, ao mesmo tempo que cortou a eletricidade. Por outro lado, reatou os bombardeamentos da Faixa de Gaza, deixando as populações errantes sem saberem para onde ir em busca de segurança.
Uma porta-voz da ONU para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani, dizia este sábado à estação Al-Jazeera terem sido contabilizados até então 224 ataques do IDF israelita, desde o fim do cessar-fogo, destacando o facto de em 36 casos analisados por fontes independentes, os mortos e feridos terem sido apenas mulheres e crianças.
Vários são, entretanto, os sinais de que o corte prolongado do acesso a bens básicos de sobrevivência (uma notícia recente dava conta do encerramento das últimas padarias da ONU, por ausência de farinha), conjugados com os ataques sistemáticos a sítios onde a população se refugia ou ordens de deslocamento contínuo das pessoas visam vencê-las pelo cansaço, a doença e a morte, criando o clima para a sua deportação forçada. Parece ser esse o plano de Trump, a que o governo de Netanyahu deu aquiescência.
Segundo o site informativo da ONU, na última sexta-feira, autoridades israelitas emitiram duas novas ordens de deslocamento “cobrindo vastas áreas no norte e no sul de Gaza”, equivalentes a 24 quilómetros quadrados, A informação foi dada pelo porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, num briefing, em Nova York. Uma tal área corresponde a perto de dez por cento do total do território da Faixa de Gaza, que fica, assim, sob controlo das forças de Israel. Ora, como refere a ONU, algumas instalações médicas e locais de armazenamento de bens essenciais estão localizadas dentro dessas zonas, levando o escritório de coordenação de ajuda, OCHA, a alertar que “isso pode ter consequências fatais para pessoas que precisam urgentemente de cuidados”. Atendendo a que vastas zonas do território se tornaram inseguras e dificilmente habitáveis, após 18 meses de conflito, o espaço vital para os palestinianos está-se a reduzir cada vez mais.
Ravina Shamdasani reconhece que a evacuação temporária de civis em certas áreas pode ser legal, sob condições rigorosas. No entanto, acrescenta, “a natureza e o escopo das ordens de evacuação levantam sérias preocupações de que Israel pretende remover permanentemente a população civil dessas áreas para criar uma chamada zona-tampão”.
“O deslocamento permanente da população civil dentro do território ocupado equivale a uma transferência forçada, o que constitui uma grave violação da Quarta Convenção de Genebra e um crime contra a humanidade”, acrescentou.
Shamdasani também enfatizou que o seu gabinete estava “seriamente preocupado com o facto de Israel parecer estar a impor aos palestinos em Gaza condições de vida cada vez mais incompatíveis com sua existência permanente como grupo”.
Texto redigido por Manuel Pinto/jornal 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.