O salão preparado para o encontro de celebração do 20.º aniversário do Serviço de Hemodiálise ia enchendo de entidades públicas, profissionais, doentes, amigos… Era um encontro científico e também de amigos, porque a amizade era uma cultura que se privilegiava neste serviço.
O doutor João, diretor do serviço, no seu modo simples e próximo de ser, era identificado ao longe pelos traços pessoais que se mantinham em dia de festa e em dia de trabalho: um riso fácil e largo e um interesse genuíno pelas pessoas, transmitido de forma acolhedora. Era este seu acolhimento, associado à competência e à persistência na defesa dos interesses dos doentes e dos colegas de trabalho, que o destacavam como pessoa especial. Ao doutor João cabia iniciar o programa do encontro com um discurso. Fez um breve resumo histórico do serviço, destacando o valor das pessoas e as conquistas concretizadas, cuidando por não esquecer ninguém.
Ao concluir, com um sorriso vaidoso, anunciou com visível carinho: “Hoje, tenho o imenso prazer de vos apresentar cinco pessoas que durante estes 20 anos acolhem, dedicam-se, cuidam, tratam, partilham, importam-se com a vida e o bem-estar das pessoas que necessitam do nosso serviço. Este serviço é especial, e a elas muito se deve. Faço questão que todos as conheçam e que todos lhes possamos agradecer tanto bem que ofereceram e oferecem. Por isso, com muito orgulho, chamo ao palco as nossas enfermeiras Helena, Graça, Joana e Lina, e a nossa técnica administrativa Leonor”.
Enquanto as palmas ecoavam num entusiasmo agradecido, o doutor João presenteou cada uma delas com um ramo de flores, transportando no abraço caloroso, o seu reconhecimento e o de muitos outros profissionais e doentes que ele representava.
As cinco homenageadas, surpresas e constrangidas pelo destaque inesperado, levaram com elas um reconhecimento público de que a sua dedicação e ligação a uma vida profissional exigente e gratificante, e os afetos que partilham, são entendidos e usados como elemento importante no tratamento e fazem diferença na vida das pessoas que servem.
Naquele encontro, muitos discursos foram feitos, muitas conferências e muito saber foi partilhado. Contudo, uma mensagem sobrepôs-se e impôs-se como imagem que permanece: reconhecer o bem que cada uma das cinco pessoas construiu, foi dar visibilidade a esse bem e, dessa forma, criar condições para que ele se repita e se multiplique. “Saber reconhecer” foi uma lição diferente, traduzida como um ato nobre de alguém grande, que sabe ver um mundo maior, mais próximo e mais humano. Foi uma lição de provada cientificidade, que se aprende no palco das relações com os outros, na busca da sabedoria de construir felicidade dentro e perto de nós.
Obrigada, doutor João, pela lição!