Ver José Allamano reconhecido como santo foi, para nós, Missionários e Missionárias da Consolata, e para toda a Igreja, uma alegria e uma graça. Existem ainda muitos sentimentos de imensa gratidão nos nossos corações por quanto foi vivido na Praça de São Pedro, em Roma, no dia 20 de outubro de 2024: houve ali uma festa de povos de todos os continentes, reunidos à volta da figura de José Allamano, enquanto este era canonizado. No entanto, este sacerdote humilde da diocese de Turim nunca tinha saído dos confins nacionais, e poucas foram as vezes que foi visto fora da sua região do Piemonte.
Escrevia um jornalista italiano a propósito de José Allamano: “quem tem uma antena apanha os sons mais longínquos, mais fracos, e prevê o que está para acontecer, o que os outros ainda não ouvem, e forma e informa numa escala muito mais ampla”. Esta imagem da antena serve ainda como reflexão para todos nós, Missionários da Consolata presentes na nossa Europa: José Allamano quer que estejamos atentos e prontos a sentir e a acolher, com as ‘antenas do coração’, as situações de missão onde ela não tinha sido pensada até há pouco tempo. Não se trata simplesmente de partir e ir para longe, ou melhor, não é o ir para longe que nos faz missionários.
Neste contexto, a fidelidade ao carisma do nosso fundador, José Allamano, passa também através do discernimento do seu espírito e da capacidade de o adaptar à mudança das realidades e circunstâncias. Tomemos consciência de que temos necessidade de descentralizar o papel do missionário, reconhecendo que é o Espírito Santo o verdadeiro protagonista da missão: “se o Espírito Santo não nos sacode interiormente, estamos sempre imersos nas nossas misérias e jamais seremos generosos”.
Ser missionários na Europa de hoje é compreender que não nós, mas a Igreja local é o sujeito da missão. Daqui nasce a consciência de que temos de passar de uma animação missionária “da” Igreja local a um serviço missionário “na” Igreja local. O olhar do missionário será, como tal, o de estar atento às situações que devem ser evangelizadas, situações que ainda hoje existem, incluindo aqui na Europa “cristã”: é o passar de uma missão geográfica a uma missão existencial, como estamos a aprender muito bem com o ministério do Papa Francisco.
E que missão existencial podemos, então, encontrar aqui hoje? Retomando as palavras do Papa Francisco, podemos responder assim: “quando lemos o Evangelho, encontramos nele uma orientação muito clara: uma missão dirigida não tanto aos amigos e vizinhos ricos, mas sim e sobretudo aos mais pobres e doentes, aos que são desprezados e esquecidos, aos que não nos podem retribuir (Lucas 14, 14). Hoje e sempre, os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho e a evangelização a eles direcionada é sinal do Reino de Deus que Jesus nos veio trazer” (A Alegria do Evangelho, 48).