Paula abraçou o projeto de ser catequista com a convicção de que os jovens crescem pela mensagem do amor.
Mas, ultimamente, pensar nas sessões de catequese representa angústia: “Que fazer com o Simão?”
Simão é um jovem de 16 anos do seu grupo de catequese. Dá sinais de estar a consumir algum tipo de droga: está agressivo, irrequieto, com um discurso sem nexo.
Paula decidiu que na próxima sessão não o convidaria a sair da sala. Refletiria com o grupo sobre as alternativas à droga e à exclusão.
Assim, começou a sessão com uma questão:
– Qual deve ser o nosso comportamento, hoje, com o Simão?
– Ele deve ir para casa. Não está bem!
– Devia tratar-se. Vê-se logo que está “ganzado”. Só perturba.
– Talvez ele precise de ajuda para deixar de se drogar. Podíamos ajudar….
– Ele devia falar com alguém sobre os seus problemas… Uma consulta…
As opiniões continuaram.
Simão ficou silencioso, talvez surpreso por falarem de si na sua presença; talvez já insensível ao que se passava à sua volta.
Paula ouvia. Os “seus” jovens eram solidários e acolhedores. Mas, isto não mudaria nada. Voltariam a encontrar-se aos sábados, Simão continuaria na sua vida e os colegas também – e ela também!
Simão corria o risco de ser preso. Continuavam os problemas em família, as suas ausências da escola, as tentativas frustradas dos vários serviços em ajudá-lo. Será que havia algo mais a tentar? Arriscou pensá-lo alto com o grupo.
– Sei que o padre Luís conhece uma instituição de ajuda a pessoas com problemas de toxicodependência. Que vos parece?
O grupo acolheu esta possibilidade. Foram “buscar” o padre Luís que os esclareceu e prometeu colher mais informações.
Na semana que se seguiu, Paula recebeu telefonemas de todo o grupo. Tinham pressa em saber novidades da Comunidade para Simão.
Mas, a resposta desfez o sonho do grupo: o custo mensal era demasiado elevado.
Na sessão de catequese seguinte, estavam todos e também Simão, desta vez suficientemente “acordado” para entender o que se passava.
“Como ajudar Simão” continuava a ser o tema. A solidariedade era já tão sólida que ninguém queria desistir.
– E se tentássemos contactar patrocinadores? – desafiou Gisela
– É, boa ideia! Eu conheço… E eu posso… Eu vou contigo…. – Eram as respostas entusiásticas à proposta de Gisela.
Simão estava quieto, atordoado, desta vez não com droga mas com a emoção que a corrente de afeto dos seus colegas fazia nascer nele. Sentia-se “quente”, rodeado por alguém que se importa. E, pela primeira vez desde que se lembra de si mesmo, sentiu-se acolhido, cuidado e com vontade de lhes corresponder. Seria mesmo possível ele livrar-se das dores que tentava “afogar” há tanto tempo, sem resultado?
Então, Simão quebrou o seu silêncio com uma afirmação que arrancou palmas e vivas emocionados:
– Eu também vou com vocês. Afinal, eu quero tratar-me!
Paula olhou Simão nos olhos. Nunca o tinha olhado assim. Sempre o olhara a procurar sinais de droga. Mas hoje, procurou o Simão. Os seus olhares encontraram-se e ali, sem palavras, formou-se uma aliança de compromisso, embalada na corrente amorosa do grupo que os envolveu a todos, com poder de unidade e libertação.
Texto: Teresa Carvalho | Ilustração: David Oliveira