Paulo VI apresentou em 1967 no mundo bipolarizado da guerra fria um documento que ainda hoje permanece actual
Paulo VI apresentou em 1967 no mundo bipolarizado da guerra fria um documento que ainda hoje permanece actualO desenvolvimento dos povos: a expressão não sai de uma qualquer cartilha revolucionária, mas remete para um texto profético do Papa Paulo VI, que abalou a crença inabalável na resposta do capitalismo aos problemas do mundo e das pessoas, muito antes da queda do Muro de Berlim, e em plena guerra fria. Estávamos em 1967.
Por aqueles dias, a 14 de abril desse ano de 1967, Gnassingbé Eyadéma tomava o poder no Togo, com um golpe de estado, onde permaneceu até à sua morte em Fevereiro de 2005. O ciclo de ditaduras militares também se sentia na Europa, com o assalto do poder na Grécia por militares chefiados por George Papadopoulos, ditadura que se perpetuaria até 1974. Num ano que conheceria ainda a morte do antigo chanceler alemão Konrad adenauer, mas também veria os Beatles publicar o seu mítico álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, Paulo VI publica a Carta Encíclica Populorum Progressio, uma veemente exortação sobre o progresso e os povos.
À época, fazem notar os especialistas, assiste-se a um agrilhoamento diferente dos jovens países saídos das descolonizações (excepto as colónias portuguesas, então ainda mergulhadas numa guerra obstinada de um governo que se recusava a aceitar os ventos das independências): o comércio entre países ricos e pobres mantinha as desigualdades, perpetuava o subdesenvolvimento de muitos em detrimento da riqueza de poucos.
O Papa denuncia os erros deste sistema internacional, assegura que, a continuarem as desigualdades entre Norte e Sul, os pobres podem partir para soluções violentas e afirma-se pelo desenvolvimento integral, que não seja entendido apenas como progresso económico. Para Paulo VI, o desenvolvimento dos povos deverá também ser acompanhado por um crescimento espiritual, de saber, da cultura e da satisfação das necessidades básicas da vida. Quarenta anos depois, este discurso permanece actual. O texto da Populorum Progressio pode ser lido na íntegra no site do Vaticano.