Rita Valadas Presidente da Cáritas portuguesa

Uma pandemia, uma guerra, o aumento do custo de vida e das taxas de juro e outra guerra. Têm vindo a crescer as sucessivas complexidades do fenómeno da pobreza e a exigir soluções que convocam todos os promotores, olhares e recursos para um exercício de intervenção em rede. Percebemos com esta crise arrastada que, para além das estratégias, das medidas excecionais e dos programas governamentais, a proximidade permite um olhar, uma escuta e uma ação mais eficientes, e a solidariedade é a primeira a chegar e a acudir em emergência.

A solidariedade fraterna que não quer deixar ninguém para trás, tem de usar todos os dons, recursos e bens que temos, quer a situação-problema em causa seja uma conjuntura social, uma causa humanitária, uma campanha de emergência ou uma iniciativa para mudar as vidas dos mais vulneráveis, proteger os mais frágeis ou “cuidar da Casa Comum”. Pode ser a simples presença, emprestar tempo, um apoio financeiro, ou conforto, em qualquer tipo de pobreza, vulnerabilidade ou sofrimento, face a uma pessoa, um grupo ou uma comunidade.

A solidariedade não é uma ferramenta frágil, é uma vantagem, que unida a uma escuta ativa, uma vigilância permanente e aos recursos de que dispomos, pode transformar vidas. Nos dias que correm desvaloriza-se muito o sentido da solidariedade humana, mas na verdade é a solidariedade que salva. A caridade protege e não desiste, mesmo com a escassez ou a complexidade.

Entre a abundância e a escassez existe muita pobreza, desperdício e uma grande incapacidade de gerir os recursos. A pobreza não é só um fenómeno financeiro. É o resultado social de rendimentos baixos e insuficientes, mas é também a incapacidade de usar todos os recursos e competências que temos ao nosso dispor, e, sobretudo, a tendência de não considerar os mais vulneráveis e os seus dons para a solução dos problemas que os afetam. É minha convicção que a ‘cola’ para unir “Todos, todos, todos”, como nos diz o Papa Francisco, é a solidariedade humana, numa ambição de exercer um “amor que transforma”. Acredito que há esperança.