Maria Semedo destaca a existência de aulas de costura sem custos, cursos de informática e ajuda na procura de emprego, de forma a apoiar a população do bairro do Zambujal | Foto: DR

O primeiro dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável é erradicar a pobreza, assunto que vai ser artisticamente representado no edifício onde vive Maria Semedo, no bairro do Zambujal. Maria nasceu em 1969, em Guadalupe, São Tomé e Príncipe, para onde os seus pais tinham ido trabalhar, como tantos cabo-verdianos. Em 1981 chegou a Portugal, reunindo-se com os pais. Primeiro viveu no bairro das Fontainhas, e em 2005 mudou-se para o Zambujal.

Como era o bairro em 2005?
Os prédios eram mais cuidados e não havia tanto lixo nas ruas. Depois chegaram pessoas que não se preocupam tanto com a limpeza geral.

O que mudou desde então?
Pouca coisa. Uma das características do bairro é a quantidade de adolescentes e adultos na rua e à porta dos cafés, aparentemente sem trabalho. Ao longo dos anos as crianças tornam-se adolescentes e depois adultos, mas sempre com o mesmo estilo de vida. É preciso que as próximas gerações sigam outros exemplos. Há muitas pessoas sem ocupação e isso está na raiz de problemas.

O que precisa de mudar?
A limpeza das ruas, que deveria ser feita com mais frequência. Há prédios com portas partidas, ninguém é responsabilizado e, quando há problemas técnicos, a resposta da Câmara é demorada. O ideal seria haver um condomínio com um responsável que seria rotativo entre todos. Como incentivo poderia haver desconto na renda.

Que aspetos positivos existem?
A capela. É acolhedora. Temos o ginásio Olimpo com preços acessíveis, aulas de costura sem custos, cursos de informática e ajuda na procura de emprego. Há uma creche, restaurantes, cafés e associações a tentar melhorar o bairro, com atividades gratuitas.

Como se vê a pobreza?
Pela quantidade de pessoas sem ocupação, a depender do Estado ou do crime. Penso que a raiz está na fraca educação e a solução passa por contratar melhores professores, com salários mais atrativos, e um bónus consoante o desempenho. As pessoas que trabalham nas associações também deveriam ser bem pagas e avaliadas consoante os resultados.

Pode partilhar um caso de pobreza?
No último andar do meu prédio está uma pessoa sem-abrigo. Uma solução seria haver mais centros de acolhimento e distribuição de comida uma vez por dia. Também se poderia propor um trabalho como limpar o bairro ou o interior dos prédios e cada morador poderia contribuir com um valor.

Consegue recomendar um filme onde a pobreza esteja presente?
A “Juventude em marcha”, que retrata a vida num bairro social.

Texto: Mário Linhares