Papa evoca necessidade de purificar as tensões do passado, sem se referir à demissão sem precedentes de arcebispo
Papa evoca necessidade de purificar as tensões do passado, sem se referir à demissão sem precedentes de arcebispoO cónego da catedral polaca de Wawel, em Cracóvia, padre Janusz Bielanski, foi demitido das suas funções por ter colaborado com os ex-serviços secretos comunistas, anunciou esta segunda-feira o arcebispo desta antiga capital real, um dia depois da retirada sem precedentes do arcebispo de Varsóvia, monsenhor Stanislaw Wielgus, que assumiu ter também colaborado com a polícia comunista, a Segurança de Estado [SB, na sigla polaca].
Por sua vez, o Papa apelou também hoje à purificação das tensões do passado na Europa e à construção do futuro sobre a reconciliação a todos os níveis. No seu encontro anual com os diplomatas acreditados no Vaticano, Bento XVI disse que importa purificar as tensões do passado, promovendo a reconciliação a todos os níveis, já que apenas ela permite construir o futuro e permitir a esperança.
Sem se referir à crise que se instalou na Igreja polaca, depois das revelações sobre Stanislaw Wielgus, os analistas lêem nestas linhas do Papa uma evocação deste caso.
O arcebispo de Cracóvia indicou esta segunda-feira ter aceite a renúncia de Janusz Bielanski, depois de conhecidas as ligações de 1982 a 1989 deste cónego, de 68 anos, com a SB do regime comunista, deposto em 1989. Na sequência de acusações de colaboração com os serviços secretos da Polónia comunista, a 2 de Janeiro de 2007, o padre Janusz Bielanski colocou-se à disposição do arcebispo de Cracóvia. O cardeal Stanislaw Dziwisz aceitou a sua demissão, lê-se no comunicado da arquidiocese, que era tutelada por Karol Wojtyla quando da sua eleição como Papa João Paulo II.
Numa análise aos acontecimentos das últimas semanas, a agência noticiosa francesa aFP sublinha que a poderosa Igreja Católica polaca saiu enfraquecida pela incapacidade em gerir o caso do arcebispo de Varsóvia e que o Vaticano levou à demissão pelo seu passado de colaboracionismo com a polícia comunista.
Para os analistas polacos citados pela aFP, a Igreja polaca atravessa agora a sua pior crise desde o fim do regime comunista. E é a ligação de figuras eclesiais de peso ao poder deposto com a queda do muro de Berlim que abre também brechas nas recordações dolorosas de muitos e que a Igreja cuidadosamente tentou abafar durante estes anos, mantendo o prestígio ganho ao longo da ditadura, uma vez que também foi uma protecção para muitos polacos.
a juntar a isto, a aura carismática que foi o longo pontificado de João Paulo II, o Papa polaco, de 1978 a 2005, ajuda a explicar como nenhuma outra instituição religiosa na Europa beneficia de uma tal audiência e influência. Segundo os últimos dados do recenseamento, 95 por cento dos polacos dizem-se católicos e metade destes participam regularmente nas missas em igrejas constantemente cheias. Para a maior parte dos analistas, a hierarquia católica cometeu um erro grave ao insistir em impor o nome de Wirlgus num dos postos mais eminentes, como o de arcebispo de Varsóvia.