Bárbara Barreiros - Investigadora da Universidade do Minho

Nunca foi tão oportuno refletir sobre o conceito de tolerância. Por um lado, aproxima-se o Dia Internacional para a Tolerância, celebrado anualmente a 16 de novembro, por outro, confrontamo-nos com o atual contexto europeu de guerra na Ucrânia e de crise migratória que se tem agravado, e que tem, naturalmente, repercussões em Portugal.

Não imaginávamos que no mundo globalizado em que vivemos pudéssemos ser telespetadores do sofrimento horrível causado pela guerra, com milhares de refugiados ucranianos a juntarem-se aos milhares que chegam de África às fronteiras da Europa, todos os dias, em embarcações, à procura de asilo e de um mundo melhor. Acreditávamos que o mundo já se encontrava mais evoluído, e consequentemente, educado para aceitar a pluralidade. Afinal, constatamos que temos ainda um longo caminho a percorrer em direção à prática da tolerância.

É certo que Portugal é um bom exemplo de democracia inclusiva e tolerante. O princípio da igualdade encontra-se consagrado na nossa Constituição, e diversos mecanismos jurídicos concorrem para a proteção do direito das minorias. O povo português, talvez pela genética dos seus antepassados descobridores e emigrantes, é aberto ao mundo. No entanto, há quem discorde com a proteção jurídica que é dada às minorias, por recearem que um dia, estas possam impor a sua vontade. Importa, por isso, realçar que ser tolerante não implica que tenhamos que abdicar das nossas convicções, da nossa educação, das nossas tradições para adotar a opinião das minorias. A tolerância pressupõe o respeito mútuo e recíproco, não sendo legítimo à maioria ou às minorias qualquer tipo de imposição.

Em face do exposto, a construção do caminho em direção à prática da tolerância passará também pela intensificação de um diálogo intercultural que permita proporcionar uma troca de experiências entre os que chegam e os que cá estão, e que consequentemente permita ultrapassar o medo do desconhecido. Só assim, a pluralidade abrirá portas a novos ensinamentos e transformará, necessariamente para melhor, as pessoas e a sociedade.