Quando um presidente africano diz não a uma oferta de aumento de salário, os políticos tremem. Estão em perigo os aumentos chorudos que eles iriam atribuir-se a si mesmos
Quando um presidente africano diz não a uma oferta de aumento de salário, os políticos tremem. Estão em perigo os aumentos chorudos que eles iriam atribuir-se a si mesmosO parlamento do Quénia aprovou, nestes dias, uma moção para aumentar o salário do presidente da República. Passaria de 700 mil xelins para dois milhões (de 7. 500 € para 21. 600 €) por mês. acresceria ainda 1,3 milhões de xelins (14. 000 €) para ajudas de custo e outras benesses.
O presidente Mwai Kibaki teve o bom senso de rejeitar a oferta inesperada. alegou que esse dinheiro pode ser investido em projectos urgentes de interesse nacional.
É verdade que há no Quénia presidentes de corporações nacionais pagos pelo erário público que ganham mais que o presidente da República. Mas ninguém se lembrou de propor uma redução dos salários desses senhores. O que veio à mente foi aumentar o do presidente para que lhes passe à frente.
É evidente que os membros do parlamento, ao aumentarem o salário do presidente, estavam a preparar o terreno para amanhã poderem clamar que o salário deles exigia ser aumentado. a recusa do presidente colocou-os em dificuldade.
Há quem diga que esta cena de oferta e recusa foi um jogo político. Pretendeu-se apresentar o presidente como amigo dos pobres, que renuncia ao seu próprio pão para os alimentar. Seja como for, permanece o facto que o presidente rejeitou a oferta. Na classe política africana – e não só no Quénia – é um autêntico milagre. É um acontecimento inaudito.
Num país, onde corrupção e subornos estão na ordem do dia, dá gosto ver que alguém rema contra a corrente. O que Mwai Kibaki poupa ao país pode não ser muito. as repercussões do seu gesto já se estão a fazer sentir. ao fim e ao cabo, os pobres acabam por ganhar. Pelo menos, esperança.