Os receios de que o crescimento da população colocariam o mundo à beira da catástrofe alimentar e ambiental estão a ser cada vez mais questionados pelos estudos sobre a população. As previsões mais recentes indicam que a população mundial poderá subir até os 9,7 mil milhões de pessoas, em 2064, para depois decrescer, até 2100, altura em que se estima que se situe em cerca 8,8 mil milhões.

Segundo um estudo do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME) da Escola de Medicina da Universidade de Washington, a menos que a baixa fertilidade seja compensada pela imigração, 183 países, de um total de 195 atualmente existentes no mundo, verão a sua população diminuir. Segundo o mesmo estudo, 23 destes países poderão ver mesmo a sua população reduzida a mais de metade. Nesta lista encontramos países como Portugal, Espanha, Itália, Japão ou Tailândia. De acordo com o mesmo estudo, as transformações já em curso darão uma visão radicalmente diferente do mundo. Por exemplo, a população da China poderá decrescer para metade nos próximos 80 anos, passando de primeiro para o terceiro país mais populoso do mundo, atrás, respetivamente, da Índia e da Nigéria. E se os maiores de 65 anos constituem dez por cento da população, atualmente, eles passarão a ser 23 por cento, em 2100.

Apesar da tendência de decréscimo generalizado das taxas de natalidade, a região da África subsariana poderá ver a sua população aumentar três vezes mais, de 1,03 mil milhões de pessoas, em 2017, para 3,07 mil milhões em 2100. Em 2050, a população do continente africano poderá ter já duplicado. Se, por um lado, os especialistas consideram que um mundo mais envelhecido tenderá a ser também mais pacífico, também não é menos verdade que, por outro lado, é entre a população mais idosa que poderá existir uma maior resistência a algumas mudanças em curso, nomeadamente no que se refere à aceitação dos novos emigrantes. Para além disso, com taxas de crescimento populacional maiores que os níveis de desenvolvimento económico, os países africanos enfrentam riscos de graves convulsões sociais e políticas.

Natalidade e urbanização
Falando sobre o caso do seu país, o economista nigeriano Akapan Ekpo, numa entrevista à revista francesa L’Express, sublinha que os jovens representam 70 por cento da população, sendo que metade está em situação de desemprego. Se a esta situação de ausência de desenvolvimento acrescentarmos os problemas climáticos, resultantes do aquecimento do planeta, o país poderá enfrentar problemas complexos a breve trecho, aumentando as tensões sociais e fenómenos como o jihadismo.

Segundo ainda especialistas citados pela L’Express, a crescente concentração das populações nas regiões urbanas é considerada uma das razões que explicam as tendências de diminuição da natalidade. Desde 2007 que a população urbana mundial ultrapassou o número de habitantes que viviam nas zonas rurais. A China é apontada como um exemplo deste processo: se, em 1960, apenas 16 por cento da população chinesa vivia nas zonas urbanas, atualmente esse número ultrapassa os 54 por cento.

Texto Carlos Camponez