O especialista em Sagrada Escritura e bispo de Lamego, António Couto, deu início ao ciclo, com a sua conferência “De ‘eu’ para ‘eis-me’”. A responsabilidade pelo outro. Os rostos dos outros como autênticas lições de humanidade. Um rosto suplicante, lacrimejante, pleno de existência, que leva a agir, a ter consciência de que a missão é “a Igreja a fazer-se” e a dizer, convictamente, “eis-me aqui, ao teu serviço”.

O ciclo prosseguiu com a autora e encenadora Matilde Trocado, que nos deu delicadamente a mão e nos conduziu pelo mundo das “expressões da proximidade” da arte, aquela ferramenta que é sempre um encontro com o inexplicável sublime, uma forma de tocar o transcendente e um véu através do qual temos um vislumbre do rosto de Deus, num apelo que se dissolve na voz do salmista: “Mostra-nos o teu rosto e seremos salvos” .

A terceira conferência esteve a cargo de Rita Valadas, licenciada em Política Social, que nos colocou “o outro diante de mim”, em género de jogo de espelhos entre “eu”, o “outro” e “nós”. Rostos interpeladores, que remetem para a obra que cada um representa. A simbiose do cuidador com o outro, que se torna, ele próprio, meu cuidador; o encontro com o rosto do outro que gera relação: o outro diante de mim que se transforma em “nós”.

O docente da Faculdade de Teologia na Universidade Católica Portuguesa Juan Ambrosio guiou-nos, apaixonadamente, por formas de “desmascarar a missão” – desafiando-nos a que tiremos a máscara para buscar traços que caracterizem a missão nos nossos tempos –, recorrendo a documentos do Papa Francisco. A descoberta da cor dos olhos de Deus a partir do encontro com os olhos do outro. Será aí que se experimenta a Igreja na sua relação com missão e comunhão, observando o centro a partir da periferia e conscientes de que a nossa resposta deverá ser um verdadeiro e desmascarado “eis-me aqui, envia-me”.

Finalmente, o ciclo encerrou com “as palavras da missão”, conferência proferida pelo cardeal José Tolentino de Mendonça. As palavras da missão: gratidão, conversão missionária, reflexão e aprofundamento teológico e espiritual; não ignorar, não adiar o coração. A falta que um rosto faz: o rosto como centro ético do mundo (E. Lévinas), como chave para a dimensão missionária. Nestes tempos dolorosos e ricos, “que fazer?”. Muitas perguntas que surgem e devem ser habitadas, vencendo a fragmentação. Dominar o medo juntos, transformando a dificuldade numa força para nos encontrarmos em profundidade. A pandemia como terra de missão.

Tendo em conta o grande interesse demonstrado por individuais e comunidades, a equipa coordenadora do ciclo de conferências decidiu acrescentar uma sessão, que ocorrerá no dia 5 de novembro, às 21h00. A intenção é colocar os rostos em frente uns dos outros, em partilha missionária, dando o seu contributo para a reflexão. O programa será estruturado em trabalho de grupos e plenário, onde serão apresentados alguns pontos concretos pertinentes para a “imaginação do possível” nestes tempos de pandemia.

Texto: Adelino Ascenso / Simão Pedro