A Peregrinação Internacional Aniversária de maio ao Santuário de Fátima “não poderá ser vivida nos moldes habituais com a multidão de peregrinos no recinto de oração”, devido à atual pandemia, informaram os serviços de comunicação do templo da Cova da Iria, na manhã desta segunda-feira, 6 de abril.

As principais celebrações desta jornada estão asseguradas e terão lugar na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima. A presidir às cerimónias vai estar António Marto, cardeal e bispo na diocese de Leiria-Fátima. Os fiéis poderão acompanhar as celebrações através dos meios de comunicação social e digital.

De acordo com a sala de imprensa do santuário, o programa da peregrinação ainda não está “decidido na sua totalidade”, contudo, na noite de 12 de maio “será recitado o rosário, com o lucernário e, no dia 13 de maio, será celebrada a Missa internacional”.

António Marto faz anunciar esta decisão através de uma mensagem de vídeo. “É com muita dor e tristeza de alma e coração, mas também com grande sentido de responsabilidade que neste momento comunico que o Santuário de Fátima irá celebrar a grande Peregrinação Internacional Aniversária de maio sem peregrinos fisicamente presentes, sem a presença física de peregrinos, como tem sido habitual”, refere o cardeal, que expressa o seu lamento por toda esta situação.

“Suspender esta peregrinação de maio nos moldes habituais é um ato de responsabilidade pastoral e também um profundo ato de fé, que comunico com o coração em lágrimas, porque sei da importância deste momento, em particular para tantos milhares de peregrinos que aqui vêm em busca de um alimento, de conforto e de paz para o ano inteiro”, acrescenta o cardeal, pedindo a compreensão dos peregrinos para esta decisão.

“Peço a todos que compreendam que, em virtude da pandemia e da necessidade de evitar a propagação do vírus, esta é a única decisão sensata e responsável que poderíamos tomar. Não podemos correr riscos! Não podíamos de modo algum permitir que o nosso santuário se tornasse centro ou foco de contágio para o país e para o mundo”, refere o prelado, lembrando a importância da população se manter em casa num momento como este.

“Esta decisão assenta no respeito pelos próprios peregrinos, por todos nós, pelo bem comum da saúde pública e reflete a nossa fé de cidadãos responsáveis e solidários. Este tempo ordena-nos que fiquemos em casa”, afirma o cardeal.

“Mesmo estando em nossas casas viveremos esse momento em espírito de peregrinação. O recinto do santuário estará vazio, mas não deserto. Ainda que separados fisicamente, estaremos todos aqui espiritualmente unidos como Igreja com Maria, de modo intenso, com o coração cheio de fé”, salienta António Marto, lembrando que as peregrinações podem assumir variados contornos.

“Não se peregrina só a pé e com os pés ou com a deslocação física. Também se peregrina com a mente e o coração, quer dizer, fazendo uma peregrinação interior na busca de luz e de verdade, de regeneração e de cura, de conforto espiritual e de paz, no encontro do peregrino consigo mesmo, com a Mãe celeste e com o mistério de Deus, para continuar a caminhar com a força da esperança”, destaca o responsável.

O bispo de Leiria-Fátima demonstra a sua compreensão e solidariedade para com todos os peregrinos que tiveram de cancelar a sua peregrinação – mais de 180 grupos inscritos até ao início desta pandemia – e refere que esta decisão também representa para o santuário “um momento muito difícil porque não pode acolher peregrinos, que são a razão de ser deste grande hospital de campanha que ajuda a sarar tantas feridas”.

O cardeal não esquece os doentes, idosos e todos aqueles têm sido privados da participação na Eucaristia, e dedica-lhes também as suas palavras. “Hoje vivemos todos como Jesus no Horto das Oliveiras. A nossa alma está triste e devemos vigiar porque os tempos são difíceis como hão-de ser difíceis os tempos que se avizinham. Agora é tempo de curarmos e estancarmos a doença; teremos também tempo para fazer contas, muitas contas à vida. Agora é a hora da solidariedade e da esperança. Lembremo-nos que para nós, cristãos, não há sexta-feira santa sem Páscoa. Mas a Páscoa vem e traz-nos a certeza de que Deus nunca nos abandona.”

António Marto deixa aos peregrinos motivos para alento. “Não poderemos peregrinar em maio, mas poderemos fazê-lo noutra altura. Aliás, devemos fazê-lo noutra altura em ação de graças”, disse o prelado, destacando que nos próximos tempos a oração deverá ser o maior desafio: “por nós, pelas vítimas diretas e indiretas da pandemia, pelos cuidadores, pelos mortos e pelos familiares em luto, pelos nossos políticos para que saibam tomar as melhores decisões para as nossas vidas”.