Todos os dias, e apesar das autoridades do Zimbabwe terem decretado o confinamento social obrigatório, dezenas de pessoas concentram-se em frente ao poço comunitário do bairro de Mabelreign, em Harare, um subúrbio da capital, para assegurar o abastecimento de água necessário para as suas famílias. Sabem o perigo que correm, mas dizem não ter outra alternativa.
“Claro que já ouvi falar sobre as distâncias. Mas as pessoas já esperavam quando cheguei e só espero é que ninguém tenha o vírus”, testemunhou Maxel Chikova, de 16 anos, enquanto aguardava numa extensa fila de pessoas munidas de jerricans e recipientes para recolherem alguns litros de água.
O governo do Zimbabwe ordenou aos 16 milhões de habitantes que ficassem em casa para travar a propagação do novo coronavírus, mas sem água potável em casa, são muitas as pessoas que têm que recorrer aos poços comunitários. O país enfrenta há duas décadas uma crise económica que degradou os serviços públicos, incluindo a distribuição de água domiciliária.
“Temos que nos levantar muito cedo para evitar esperar muito tempo, não há outra opção. Todos já ouvimos falar do coronavírus e tentamos lavar as mãos ao máximo, mas às vezes, preferimos usar a água para outra coisa”, admitiu Ephiphania Moyo, outra das pessoas entrevistadas na fila de espera.
Questionada sobre se usava gel desinfetante para prevenir a Covid-19, a empregada de limpeza foi perentória: “Isso é só para os ricos. Não é para nós que vivemos nos guetos”. Como a ordem de confinamento encerrou as escolas, são as crianças que em geral têm a tarefa de ir buscar água, sem poder respeitar em muitos casos as medidas sanitárias mais elementares. Por isso, se o vírus de propaga no país, os especialistas temem que se registe uma catástrofe.