Quando começou a guerra civil no Sudão do Sul e, mais tarde, com o agravar do conflito na República Democrática do Congo, o Uganda rapidamente se destacou da maioria dos países vizinhos ao adotar uma política radicalmente diferente: manteve as suas fronteiras abertas e criou mecanismos para acolher e integrar os refugiados.

Através de um plano específico e desenhado para evitar o colapso de uma nação onde a esperança média de vida ronda os 62 anos e a maioria da população vive no limiar da pobreza, o governo ugandês disponibilizou-se para distribuir um terreno a cada refugiado registado, que lhes permitisse ter um espaço para construir uma pequena casa e a possibilidade de manter a autonomia através do cultivo de produtos agrícolas.

Esta política de portas abertas tem dado resultados positivos, quer para os migrantes quer para os proprietários e comunidades de acolhimento, mas também para a economia do país, que nos últimos anos recebeu mais de 150 milhões de euros da União Europeia em ajudas para apoio ao programa de acolhimento de refugiados. O Uganda alberga cerca de 1,2 milhões de refugiados, o maior número em África e o terceiro maior a nível mundial.

“De certa forma, é um modelo para outros países. Mostrar que ao acolher as pessoas e dar-lhes algum espaço, alguma liberdade de circulação, alguma liberdade de emprego, pode funcionar e não cria automaticamente uma enorme crise para o país de acolhimento”, admitiu recentemente o diretor do Projeto de Refugiados do Uganda, Chris Nolan.

“Cheguei de mãos vazias”
Para que toda esta dinâmica funcione, é fundamental a entrada em jogo de pessoas como Tom Angua, um agricultor ugandês que decidiu disponibilizar parte das suas propriedades agrícolas. “A imigração é uma oportunidade. Emprestei alguns dos meus terrenos ao governo para que os entregue a refugiados, mas também a compatriotas que vivem por aqui. Desta forma, o que antes estava por cultivar, agora torna-se
produtivo e criam-se oportunidades comerciais”, revelou o camponês em declarações ao El País.

Os refugiados, por sua vez, não poupam elogios à política ugandesa, pelas novas oportunidades que lhes proporcionou. “Cheguei ao Uganda sem nada, literalmente de mãos vazias. O governo e a AVSI [organização italiana envolvida em vários projetos de desenvolvimento] deram-me as ferramentas necessárias para começar a trabalhar como agricultor e pastor. Tenho dois filhos, quero que possam estudar e ter um futuro melhor, e posso consegui-lo graças a este trabalho que me deram. Faz tempo que produzo mais do que o necessário para a sobrevivência da minha família, pelo que já comecei a vender os meus produtos”, testemunhou Akim Samwe, no âmbito de uma reportagem do periódico espanhol, na região de Rhino Camp.

Segundo a opinião de vários especialistas, está demonstrado que este sistema de acolhimento é um dos mais eficientes até agora, mas para garantir que os esforços realizados não se percam, defendem que é fundamental manter o apoio económico da comunidade internacional até assegurar a sustentabilidade do projeto.