Orna Wachman

A atual pandemia «será travada», assim que for «encontrada uma vacina», mas os efeitos económicos e sociais «vão demorar muito mais tempo a serem solucionados e os mais vulneráveis estão muito mais expostos». O alerta é de Jardim Moreira, sacerdote na diocese do Porto e presidente da Rede Europeia Anti Pobreza em Portugal (EAPN), e surge num documento enviado ao Governo, onde o responsável dá conta das suas preocupações relativas aos efeitos socioeconómicos da pandemia.

Jardim Moreira afirma que a organização que dirige se encontra «particularmente preocupada» com os grupos sociais de maior vulnerabilidade, e recorda que vivem em Portugal «mais de 2 milhões de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social», e cerca de 1,7 milhões estão em risco de pobreza monetária.

«Esta população encontra-se ainda mais vulnerável aos cortes no rendimento familiar, às situações de desemprego, às consequências de uma crise económica que poderá seguir à crise pandémica, assim como uma maior dificuldade de acesso a cuidados de saúde fora do SNS ou outros recursos», escreve o responsável no documento enviado ao Governo português.

Jardim Moreira pede uma atenção para a «especial vulnerabilidade à pobreza» das famílias monoparentais, onde o rendimento do agregado familiar está «fortemente condicionado pela existência de apenas um elemento adulto». No mesmo documento é também pedida atenção aos mais velhos que são «um grupo fortemente vulnerável à letalidade da Covid-19», e, «sem capacidade financeira», estão «ainda mais dependentes» de um SNS que «consiga responder às suas doenças crónicas e agudas».

Os membros da EAPN Portugal consideram que este é um momento em que se deve «priorizar o bem-estar de todas as pessoas», e adotar medidas que «protejam os mais vulneráveis». Nessa linha, a organização propõe que o «açambarcamento» de bens seja «contida também por parte dos supermercados e das grandes superfícies comerciais». O organismo sugere ainda a «suspensão de despejos» por falta de pagamento de hipotecas e do pagamento de rendas, «se a causa for atribuída ao efeito económico desta crise».

A Rede Europeia Anti Pobreza pede também propostas de proteção no emprego, como «não permitir despedimentos tendo por base as consequências económicas do vírus, principalmente de mulheres». Ao Conselho Europeu, este organismo pede a proteção dos «mais vulneráveis» aos efeitos da pandemia, considerando que a União Europeia e os Estados membros necessitam de «fortalecer os serviços públicos de saúde, os sistemas de proteção social, as instituições, os sistemas de rendimento mínimo», de forma a reduzir as desigualdades.