Ex-diretor de Saúde Mental da Organização Mundial de Saúde alerta para a necessidade imperiosa de se respeitar o distanciamento interpessoal, manter o isolamento social e evitar aglomerações públicas
«Neste momento, todo o cuidado é pouco e temos que pensar em termos de prevenção, a fim de evitar uma catástrofe sanitária sem precedentes para os que vivem atualmente. É preciso manter o otimismo de que será mais uma etapa a ser vencida pela humanidade, e não um otimismo ingénuo e tolo de achar que as recomendações das autoridades são excessivas e nós podemos brincar com elas», alerta o ex-diretor de Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde e professor da Faculdade de Medicina de Botucatu, José Bertolote.
Numa entrevista à ONU News, o especialista recorda que ainda não existe tratamento específico e eficaz contra o novo coronavírus (Covid-19), a não ser a prevenção e a precaução depois do contágio, pelo que cabe a cada cidadão, em qualquer parte do mundo, fazer o possível para impedir a disseminação do vírus.
Segundo Bertolote, o custo da atual pandemia «é medido não apenas em termos de mortes, ou em termos de sofrimento físico, mas certamente trará um enorme impacto económico e emocional para a população». Tanto nos países onde o vírus já está a circular como naqueles que ainda aguardam a sua chegada.
Neste sentido, o docente e investigador chama a atenção para a «histeria internacional» que se tem gerado «com base em informações distorcidas». «Temos uma avalanche de falsas notícias que circulam pelas redes sociais e que contribuem para aumentar muito a ansiedade das pessoas, que têm acesso a essa informação. Tem que haver um esforço para obter as informações de fontes seguras, confiáveis e de fontes oficiais», aconselha.
Reconhecendo que esta pandemia, em particular, parece tão terrível porque é a do momento, José Bertolote chama no entanto a atenção para outros exemplos do passado, como a gripe suína, a gripe aviária, ou a explosão do vírus da Sida, de onde podem ser retiradas lições. «Se pensarmos nesses eventos mais antigos, temos que lembrar que hoje há mais recursos terapêuticos. Portanto, olhando para o passado, as lições são que temos que ter paciência para enfrentar uma ocorrência desta natureza. É algo que surgiu, espontaneamente na natureza, e temos que ter paciência, temos que ter moderação para enfrentá-la. Hoje, diferentemente dos episódios anteriores, nós temos informação científica que nos ajudam, temos formas mais eficazes e de base científica para nos protegermos», concluiu.