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Religiosa portuguesa a viver na Síria afirma que o país será incapaz de lidar com uma eventual propagação dos casos, porque muitas das suas estruturas médicas se encontram destruídas devido à guerra

Com a confirmação oficial de um primeiro caso de Covid-19 na Síria, aumentam os receios na região sobre os eventuais efeitos que a pandemia pode ter num território altamente fragilizado. Maria Lúcia Ferreira, uma religiosa portuguesa residente no Mosteiro de São Tiago Mutilado, na Síria, explica que devido à guerra são muitos os hospitais que se encontram destruídos, e que as infraestruturas médicas se encontram sem meios adequados para fazer face a um cenário de emergência, idêntico ao que está a decorrer em diversos pontos do mundo.

Perante um eventual cenário de propagação da doença no país, a irmã Lúcia Ferreira, pertencente à Congregação das Monjas da Unidade de Antioquia, afirma que aquele território é incapaz de «controlar a situação porque é um país em guerra, muitos hospitais foram destruídos, há pouco pessoal médico, há muita emigração e não temos os meios, não temos os meios técnicos nem o material para fazer face a uma tal epidemia».

A religiosa lembra que naquele território «há muita gente que se alimenta mal e não tem as defesas necessárias no seu corpo». Se, eventualmente, o governo decretar a quarentena obrigatória, «as pessoas não têm dinheiro para trazer alimentos para ficarem fechadas em casa durante várias semanas». «Não têm, não há dinheiro, não há possibilidade [disso]», lamenta a irmã, numa mensagem enviada à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

O governo de Damasco decretou já algumas medidas preventivas, como o fecho de escolas e de instituições do ensino superior. A população está a ser sensibilizada para a importância de lavar as mãos de uma forma adequada, capaz de eliminar o vírus, e, pelo menos, o «patriarca greco-católico parou todas as atividades das paróquias».

Recentemente, a religiosa tinha já alertado para as difíceis condições em que vivem as populações na região montanhosa do Qalamoun, uma zona tradicionalmente cristã, localizada nas proximidades da fronteira com o Líbano. Devido a um inverno especialmente rigoroso, e aos efeitos da guerra, os habitantes daquela área têm-se deparado com falhas persistentes no fornecimento de eletricidade, o que tem acentuado ainda mais as já duras condições da população.

Disso exemplo, é o caso de uma família que já se viu obrigada a incendiar roupa antiga, que já não utilizava, para aquecer a sua própria habitação, e o caso de tantas pessoas que sobrevivem com recurso «a pão e água». A religiosa portuguesa pede a solidariedade e as orações de todos pela Síria. «Gostava de pedir que nos acompanhassem com a vossa oração por este povo que está realmente na provação», lamenta a irmã.