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Santa Sé espera que o acesso à documentação possa esclarecer o silêncio do líder da Igreja Católica em relação ao nazismo. Investigadores podem consultar cerca de 16 milhões de documentos

«A Igreja não tem medo da história. Pelo contrário», afirmou o ano passado o Papa Francisco, ao anunciar a abertura da documentação relativa ao pontificado do Papa Pio XII, que passa a estar acessível aos investigadores a partir desta segunda-feira, 2 de março. O Vaticano espera que a consulta dos documentos possa esclarecer o silêncio do Pontífice, acusado durante décadas de não ter levantado a voz contra o nazismo durante a II Guerra Mundial.

Segundo informações da Santa Sé, há já 85 investigadores inscritos para poderem pesquisar cerca de 16 milhões de documentos pertencentes ao chamado «arquivo secreto», mas também a diferentes instituições do Estado do Vaticano que foram organizados nos últimos 14 anos

Em 1965, o Vaticano tinha publicado documentação que acabou por ser compilada em 12 volumes — «Atos e documentos da Santa Sé relativos à II Guerra Mundial» — que continha material de arquivo sobre o pontificado de Pio XII. Para Luis Manuel Cuña Ramos, um dos membros da equipa dos arquivos do Vaticano, da consulta de toda a documentação irá «sair muito engrandecida a figura de Pio XII». «Vamos deixar-nos de ideologias e de preconceitos e vamos à história. Este é o momento para os historiadores tirarem conclusões», afirmou.

Recorde-se que, em finais de 2019, o Papa Francisco alterou formalmente o nome do Arquivo Secreto do Vaticano para Arquivo Apostólico do Vaticano. «Enquanto perdurou a consciência da estreita ligação entre a língua latina e as línguas que dela originam, não havia necessidade de explicar ou até mesmo justificar o título `Archivum Secretum´. Porém, com as progressivas mudanças semânticas nas línguas modernas e nas culturas e sensibilidades sociais de várias nações, de modo mais ou menos marcado, o termo `Secretum´ ao lado de Arquivo Vaticano começou a ser mal entendido, e interpretado de modo ambíguo, até mesmo negativo», explicou, na ocasião, o Santo Padre.