«é necessário que o Evangelho volte a inquietar os europeus, fechados em si mesmos e insensí­veis ao que está fora de seu meio”.
«é necessário que o Evangelho volte a inquietar os europeus, fechados em si mesmos e insensí­veis ao que está fora de seu meio”.

O fundador da Comunidade de Santo Egídio, professor andrea Riccardi, ao intervir em Madrid no Quinto Fórum Internacional organizado por Mãos Unidas sobre os efeitos da globalização nos países menos desenvolvidos, afirmou que «os cristãos são uma preciosa reserva para fazer menos desumano este mundo».
Na sua conferência que tinha por título «os desafios da vida, o pão e a paz no mundo global», este historiador disse que «nós, cristãos, não renunciamos a mudar o mundo”. Tal como o Mestre que “não passou indiferente diante dos enfermos, dos leprosos, dos coxos, dos famintos, dos mortos ou das lágrimas das mulheres e da dor de um pai. Jesus comoveu-se perante eles». «quem salva uma vida frágil muda o mundo» acrescentou. .
Tudo isto ” disse ele ” está enraizado na fé: “tudo é possível para quem tem fé”. Sem fé a solidariedade enfraquece. é a fé que “nos mantém firmes no amor impossível: é possível amar inclusive quem nos hostiliza. a fé conserva o amor entre as dificuldades de um mundo às vezes duro e sem coração».
O fundador da comunidade de Santo Egídio inquietou os presentes com perguntas como esta: Pode-se viver só para si? as imagens de homens, mulheres e crianças afectados pela miséria são questões que atingem o homem europeu.comunicar o Evangelho na Europa é também abrir os corações e os ouvidos dos europeus aos pobres do mundo. Insistiu nesta ideia: «é necessário que o Evangelho volte a inquietar os europeus, fechados em si mesmos e insensí­veis ao que está fora de seu meio. Uma vida que não se deixa tocar pelos pobres torna-se arrogante e vazia. O Evangelho introduz temor e responsabilidade na felicidade e na riqueza. Quem fecha o coração ao pobre torna-se arrogante e a sua felicidade converte-se em condenação».
Evangelizar hoje na Europa “é salvar o mundo europeu da arrogância na felicidade; é também abrir o coração e os olhos para com os pobres do mundo. Porque não se pode viver como vivemos no Norte, prescindindo de como vivem milhares de milhões de homens e mulheres no Sul». é preciso aperceber-se de que “os pobres não são apenas os pobres de estômago. São todos aqueles que necessitam de afecto, amizade, estima”. Neste sentido, expôs exemplos concretos da experiência do trabalho da Comunidade de Santo Egídio no tratamento dos doentes da Sida na África, para o que se «necessitou de um trabalho político e cultural importante».
« a miséria e o desespero acabarão por ameaçar o nosso bem-estar, com a imigração desde já, mas talvez também com algo pior. Sei bem que não são os pobres os que imediatamente se convertem em terroristas ou radicais, mas com frequência são os filhos dos humilhados ou os próprios humilhados quando alcançam um mínimo de nível cultural», advertiu.
Lembrando a sua experiência pessoal durante as negociações de paz para Moçambique, Riccardi disse que «os cristãos são uma força de paz». Num problema tão complexo como o da globalização, os cristãos podem ser de grande ajuda: « a Igreja, como comunhão, tem a globalização nos seus cromossomas. O martí­rio de tantos cristãos no Sul do mundo durante o século XX é a expressão radical de um laço que não conhece fronteiras». Neste mundo globalizado, os cristãos são chamados a ter uma espiritualidade aberta ao universal, sem esquecer desde logo o que está perto. E não há melhor universalidade que a participação nas dores do pobre ou do que sofre».