Na nova exortação apostólica dedicada às novas gerações, Francisco convida os jovens a uma maior entrega «aos outros» e desafia a Igreja a «escutar mais» e a condenar menos
Na nova exortação apostólica dedicada às novas gerações, Francisco convida os jovens a uma maior entrega «aos outros» e desafia a Igreja a «escutar mais» e a condenar menos O Vaticano divulgou esta terça-feira, 2 de abril, a nova exortação apostólica do Papa Francisco – Cristo Vive – um documento que fala dos jovens e aos jovens, e que dá sequência à assembleia do Sínodo dos Bispos, realizada em outubro do ano passado, para analisar e debater a relação dos jovens com a Igreja Católica. No documento, dividido em nove capítulos e 299 pontos, o Pontífice faz um enquadramento do jovem na história da Igreja, a partir do Evangelho, dá a conhecer muitas das preocupações das novas gerações e procura lançar linhas de ação para que os jovens encontrem e desfrutem do seu espaço no seio da Igreja. ao mesmo tempo, dá conselhos pastorais a quem lida com os mais novos, convidando uma escuta mais ativa e menos condenatória. Embora haja jovens a quem agrada ver uma Igreja que se manifesta humildemente segura dos seus dons e também capaz de exercer uma crítica leal e fraterna, outros jovens reclamam uma Igreja que escute mais, que não passe o tempo a condenar o mundo. Não querem ver uma Igreja calada e tímida, mas tão-pouco desejam que esteja sempre em guerra por dois ou três assuntos que a obcecam. Para ser credível aos olhos dos jovens, precisa às vezes de recuperar a humildade e simplesmente ouvir, reconhecer, no que os outros dizem, alguma luz que a pode ajudar a descobrir melhor o Evangelho. Uma Igreja na defensiva, que perde a humildade, que deixa de escutar, que não permite ser questionada, perde a juventude e transforma-se num museu, escreve o Papa. Para Francisco, os tempos atuais obrigam a mudanças de paradigma na forma de abordar e lidar com os jovens, a começar pelas estruturas vocacionadas para trabalhar com os mais novos. a pastoral juvenil, tal como estávamos habituados a realizá-la, foi abalroada pelas mudanças sociais e culturais. Nas estruturas habituais, muitas vezes os jovens não encontram resposta para as suas inquietudes, necessidades, problemas e feridas. () Embora nem sempre seja fácil abordar os jovens, estamos a crescer em dois aspetos: a consciência de que é toda a comunidade que os evangeliza e a urgência de que os jovens sejam mais protagonistas nas propostas pastorais, refere. Já na parte mais dirigida aos jovens, o Papa apela a uma entrega mais missionária, que pode ser conseguida com gestos simples, e que não deve ser demasiado controlada pelo sistema eclesiástico. Quero lembrar que não há necessidade de fazer um longo percurso para que os jovens se tornem missionários. Mesmo os mais frágeis, limitados e feridos podem sê-lo à sua maneira, porque sempre devemos permitir que o bem seja comunicado, embora coexista com muitas fragilidades. Um jovem que vai em peregrinação pedir ajuda a Nossa Senhora e convida um amigo ou um companheiro para que o acompanhe, com este gesto simples está a realizar uma valiosa ação missionária. Inseparavelmente unida à pastoral juvenil popular, existe uma missão popular, incontrolável, que rompe todos os esquemas eclesiásticos. acompanhemo-la, encorajemo-la, mas não pretendamos regulá-la demasiado, sublinha o Pontífice. Nesta exortação apostólica, entre outros conselhos, Francisco pede a toda a comunidade católica que não ceda à tentação de se agarrar ao passado, de se ancorar na fé do antigamente: Peçamos ao Senhor que liberte a Igreja daqueles que querem envelhecê-la, ancorá-la ao passado, travá-la, torná-la imóvel. Peçamos também que a livre doutra tentação: acreditar que é jovem porque cede a tudo o que o mundo lhe oferece, acreditar que se renova porque esconde a sua mensagem e mimetiza-se com os outros. Não! É jovem quando é ela mesma, quando recebe a força sempre nova da Palavra de Deus, da Eucaristia, da presença de Cristo e da força do seu Espírito em cada dia. É jovem quando consegue voltar continuamente à sua fonte.