O que antes era usado como um passatempo é agora encarado como uma das soluções para tentar sobreviver à falta de alimentação e de dinheiro para comprar os bens de primeira necessidade
O que antes era usado como um passatempo é agora encarado como uma das soluções para tentar sobreviver à falta de alimentação e de dinheiro para comprar os bens de primeira necessidade aos 35 anos, Juan Maurice está a passar por uma crise como nunca tinha imaginado vir a passar. Em dois anos perdeu 16 quilos e, por necessidade, o pedreiro de profissão aventura-se agora nas águas poluídas do Lago de Maracaibo, na Venezuela, para tentar dar de comer aos sete filhos. Hoje podemos estar aqui e amanhã podemos estar no monte à procura de coelhos e iguanas, desabafa às agência internacionais, enquanto retira 20 filhotes de carpeta, um peixe que pode chegar aos 30 centímetros, mas neste caso com apenas oito. Maurice vivia tranquilo com o seu salário de pedreiro e de soldador, mas neste momento, além da caça e da pesca, está dependente dos biscates para dar de comer à família. antes, o meu salário dava para comer, para guardar, para trazer presentinhos para casa, dava para tudo, recorda. Marcy Chirinos, funcionária da prefeitura de Maracaibo, vive problema idêntico. Ganha o salário mínimo, o equivalente a seis dólares, que dão para não mais do que dois quilos de carne. Não é possível que se viva assim, tenho que vestir roupas sujas porque não tenho água e não dá para comprar detergente”, reclama. apostada em ajudar com a alimentação dos cinco netos, Chirinos enfrenta ainda outro problema: mesmo que queira comprar alimentos, não os encontra, ou apanha-os a preços proibitivos. Se vendem algo, é caríssimo, o arroz, a farinha… e agora querem vendê-los por dólares, não pode ser, onde vou encontrar dólares?, interroga-se.com uma economia reduzida a metade desde 2014 e uma inflação projetada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em 10. 000. 000 por cento para este ano, a Venezuela continua mergulhada numa crise económica, política e social cujas consequências são imprevisíveis. No seu mais recente relatório sobre a situação no país, a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, refere que um dos principais problemas as autoridades recusarem reconhecer as dimensões do que qualifica como uma vasta crise humanitária. além disso, a responsável teme que as recentes sanções impostas pelos Estados Unidos da américa possam contribuir para agravar a situação económica do país, pelo que apela a um rápido acordo sobre uma solução política.